Marco Antônio de Morais Alcantara
Considera-se que existe uma
responsabilidade social quando se constrói uma edificação. Pode-se distinguir a
concepção do concreto, a produção, o recebimento, e o controle sobre a
avaliação da eficácia para a vida útil, considerando as contingências para as
quais foi concebida e projetada a estrutura.
Quem são as pessoas que respondem
pela produção e pelo desempenho do concreto que é lançado nas estruturas?
Considerando que o concreto,
desde a concepção à fabricação, está inserido no contexto do processo de
construção de estruturas, cabe apresentar inicialmente este contexto conforme Batlouni Neto
(2011), o qual destaca algumas figuras importantes, participantes, que podem
influenciar na elaboração de um projeto estrutural, assim como de sua execução.
Cabe considerar que, quando se
fala em qualidade de estruturas, são tomados em consideração as fases de
concepção, projeto, fabricação e o desempenho final, o qual deverá estar
sujeito à avaliação de atendimento aos requisitos do projeto.
São apresentadas agora algumas
considerações de norma, sobre as pessoas a quem são atribuídas as
responsabilidades, e protocolos, no que tange à qualidade do concreto utilizado
nas obras.
De acordo com a NBR 12655:2015
são responsáveis o proprietário da obra e responsável técnico no sentido de
garantir o cumprimento da norma e de guardar a documentação que comprove a
qualidade do concreto. Como documentos da obra pode-se compreender os projetos
de execução, memoriais de cálculo, resultados de ensaios sistemáticos.
Cabe considerar que o concreto
pode ser fabricado na obra ou preparado por empresa de serviços de concretagem.
Em primeiro lugar apresenta-se as
atividades que são realizadas com relação à execução da obra.
Atividades que são realizadas pelo responsável pela execução da obra
De acordo com a NBR 12655:2015,
estas atividades são as que seguem, às quais tecemos algumas considerações.
-Escolha da modalidade de preparo
do concreto envolvendo a consistência, dimensões máximas do agregado e as
condições de execução.
Neste sentido se pode inferir sobre o tipo de estrutura e os requisitos
de desempenho, e as características do concreto no estado fresco e os meios de
fabricação, de modo a haver compatibilidade; como, por exemplo, nos casos de
concretos vibrados, que podem ser ainda distinguidos entre os vibrados
energicamente ou por vibração moderada, sendo então concretos “firmes” ou
“plásticos”. Pode se ainda considerar os casos de concretos fluidos como nos
casos de concretos autoadensáveis ou concretos bombeados.
Os agregados podem ser definidos quanto ao diâmetro máximo por razões
construtivas de modo a se evitar bloqueios em peças fortemente armadas, ou em
razão de exigências relacionadas à reologia do concreto no estado fresco. Mas também existem concretos que requerem o
valor do diâmetro máximo limitado à determinado valor, de modo a diminuir a
influência das forças de inércia, e favorecer as condições de mobilidade, ou,
alguns tipos de concretos requerem a limitação do diâmetro máximo por limitar
concentrações de tensão.
-Atendimento aos requisitos de
projetos e à escolha dos materiais componentes.
Neste sentido se considera os requisitos de desempenho para o concreto
nos estados fresco e endurecidos. Por exemplo, nos casos de fluidez e
mobilidade, em concretos bombeados, com imposição de limitação do diâmetro
máximo e escolha adequada da granulometria, assim como com a utilização de
aditivos dispersantes; ou no caso do concreto autoadensável, o qual requer uma
grande quantidade de pasta, limitação do diâmetro máximo, condições de fluidez
e de mobilidade, sem que ocorram a segregação e a exsudação, e com a utilização
finos, e de aditivos superplastificante e de agentes de viscosidade.
Para os casos de estruturas que requerem ductilidade recorre-se ao uso
de fibras, mas estas devem ser escolhidas dentre uma variedade que envolve
diferentes dimensões, materiais, implicando em diferentes propriedades
elásticas e de resistência mecânica, de rugosidade, de aderência à matriz e à
ancoragem.
O concreto fresco pode ser recebido mediante os ensaios de validação,
de modo a poder conferir as propriedades requeridas e que atestem as condições
de aplicação.
Para o recebimento do concreto são realizados normalmente os ensaios
que atestem a consistência do concreto em compatibilidade com os meios
tecnológicos que serão adotados para o seu transporte, lançamento e
adensamento. Para os casos de concretos vibrados se utiliza o ensaio de
abatimento, prescrito conforme a NBR NM 67.
Do fato que os concretos podem ser produzidos em obras ou fornecidos
por central, distingue-se as orientações, conforme a NBR 12655:2015:
Quando o concreto é produzido na obra, os ensaios devem ser realizados
conforme se caracterize as seguintes condições: na primeira amassada do dia; ao
preparo após a interrupção dos serviços quando esta decorre em ao menos 2h;
quando se troca os operadores; sempre que forem moldados corpos de prova; e quando
houver alteração da umidade dos agregados.
Quando se trata de concreto produzido por empresa de fornecimento de
concreto os ensaios devem ser realizados a cada betonada.
No caso de se tratar de concreto autoadensável devem ser realizados os
ensaios de validação com base nos ensaios de “espalhamento” e de “habilidade
passante” com base no que prescreve as normas NBR 15823-2 e NBR 15823-3
respectivamente.
-O responsável pela obra também
deve atentar para o prazo da retirada dos escoramentos, em idades particulares
compatíveis com o ganho de resistência mecânica da estrutura, a partir das
condições materiais e do contexto ambiental.
-O responsável também deve
atender aos requisitos da norma para a liberação da protensão e da desforma dos
elementos pré-moldados do concreto, e da rastreabilidade do concreto lançado na
estrutura.
O responsável pelo projeto estrutural
Cabe a este profissional exprimir
em desenhos e memórias que descrevem o projeto:
-O registro da resistência
característica do concreto, dado por fck.
Este valor é definido com base no levantamento de cargas do projeto, e
em sua forma final é assumido como uma forma probabilística, baseada nas
sistemáticas de cálculo estrutural, orientado conforme a ABNT NBR 6118:2014.
-Especificação do fck para
as etapas da obra. No caso a retirada dos cimbramentos, da aplicação da
protensão, ou no manuseio dos pré-moldados.
-Especificação dos requisitos
correspondentes à durabilidade das estruturas e vida útil durante a sua vida
útil, inclusive da classe de agressividade adotada em projetos.
-Especificação dos requisitos às
particularidades especiais do concreto durante a fase construtiva e vida útil
da estrutura.
Controle sobre a resistência mecânica do concreto
Para a estimativa da resistência
à compressão do concreto pode-se recorrer aos ensaios mecânicos orientados pela
NBR 5739:2018. Para tanto, as amostras devem ser coletadas e preparados os
corpos de prova segundo critérios de amostragem e de avaliação das normas NM 33:1998
e NBR 5738:2016.
Dentro da sistemática são
estabelecidos lotes que podem ser definidos em função do volume de concreto,
andar tipo, ou de tempo de concretagem. As amostras devem ser de uma mesma
amassada, e os corpos de prova devem ser rompidos à idade de 28 dias de cura.
Dos valores alcançados nos
ensaios mecânicos pode se calcular o valor de f ck est. Para este
cálculo pode se tomar em consideração os diferentes tipos de controle de
avaliação, expressos conforme a norma NBR 12655:2015.
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Referências bibliográficas
ABESC (Associação Brasileira das Empresas de
serviços de concretagem) Concreto dosado
em central São Paulo 59p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR 6118 Projetos de estrutura de concreto-procedimentos, 2014, 238p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR 8953 Concretos para fins estruturais-classificação pela massa específica,
por grupos de resistência e consistência. Rio de Janeiro, 2015, 7p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR 15823-3 Concreto autoadensável Parte3: Determinação da habilidade passante,
Rio de Janeiro, 2017,4p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR 5738 Concreto-Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova,
2016, 9p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR 5739 Concreto-Ensaios de compressão de corpos de prova, 2018, 9p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR 33 Concreto-Amostragem de concreto fresco, 1998, 5p.
Associação
Brasileira de Normas técnicas. NBR NM 67 Concreto-Determinação da consistência pelo ensaio do cone de Abramns,
Rio de Janeiro, 2008, 8p.