segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES NA PRODUÇÃO DO CONCRETO, NA CONCEPÇÃO E NA CONSTRUÇÃO DE ESTRUTURAS



Marco Antônio de Morais Alcantara

Considera-se que existe uma responsabilidade social quando se constrói uma edificação. Pode-se distinguir a concepção do concreto, a produção, o recebimento, e o controle sobre a avaliação da eficácia para a vida útil, considerando as contingências para as quais foi concebida e projetada a estrutura.

Quem são as pessoas que respondem pela produção e pelo desempenho do concreto que é lançado nas estruturas?

Considerando que o concreto, desde a concepção à fabricação, está inserido no contexto do processo de construção de estruturas, cabe apresentar inicialmente este contexto conforme Batlouni Neto (2011), o qual destaca algumas figuras importantes, participantes, que podem influenciar na elaboração de um projeto estrutural, assim como de sua execução. 


Em primeiro lugar, o proprietário da obra; este é o empreendedor, e é quem  vai requerer uma edificação conforme os seus objetivos de uso, vida útil desejada, condições e de acabamentos;  o arquiteto, por sua vez, elabora a concepção arquitetônica, a geometria, sobretudo definindo a presença de elementos construtivos que podem influenciar no desempenho estrutural; o projetista de estruturas, então, procurará criar o arranjo estrutural em compatibilidade com os elementos arquitetônicos propostos, visando o melhor desempenho e custo; o tecnologista de concreto deverá conceber a produção de concreto em acordo com os requisitos estruturais e o contexto particular da obra, o qual pode requerer um tipo de concreto particular, além de recursos de equipamentos; o coordenador de projetos deverá orientar a equipe no sentido de que os trabalhos sejam viabilizados fornecendo a maior produtividade, e o verificador, que tem o papel de fazer a análise de projeto e detectar possíveis falhas. Cada um destes tem um papel importantes nas decisões e na qualidade da fabricação da estrutura.

Cabe considerar que, quando se fala em qualidade de estruturas, são tomados em consideração as fases de concepção, projeto, fabricação e o desempenho final, o qual deverá estar sujeito à avaliação de atendimento aos requisitos do projeto.

São apresentadas agora algumas considerações de norma, sobre as pessoas a quem são atribuídas as responsabilidades, e protocolos, no que tange à qualidade do concreto utilizado nas obras.

De acordo com a NBR 12655:2015 são responsáveis o proprietário da obra e responsável técnico no sentido de garantir o cumprimento da norma e de guardar a documentação que comprove a qualidade do concreto. Como documentos da obra pode-se compreender os projetos de execução, memoriais de cálculo, resultados de ensaios sistemáticos.

Cabe considerar que o concreto pode ser fabricado na obra ou preparado por empresa de serviços de concretagem.

Em primeiro lugar apresenta-se as atividades que são realizadas com relação à execução da obra.

Atividades que são realizadas pelo responsável pela execução da obra

De acordo com a NBR 12655:2015, estas atividades são as que seguem, às quais tecemos algumas considerações.

-Escolha da modalidade de preparo do concreto envolvendo a consistência, dimensões máximas do agregado e as condições de execução.

Comentários nossos:

Neste sentido se pode inferir sobre o tipo de estrutura e os requisitos de desempenho, e as características do concreto no estado fresco e os meios de fabricação, de modo a haver compatibilidade; como, por exemplo, nos casos de concretos vibrados, que podem ser ainda distinguidos entre os vibrados energicamente ou por vibração moderada, sendo então concretos “firmes” ou “plásticos”. Pode se ainda considerar os casos de concretos fluidos como nos casos de concretos autoadensáveis ou concretos bombeados.
Os agregados podem ser definidos quanto ao diâmetro máximo por razões construtivas de modo a se evitar bloqueios em peças fortemente armadas, ou em razão de exigências relacionadas à reologia do concreto no estado fresco.  Mas também existem concretos que requerem o valor do diâmetro máximo limitado à determinado valor, de modo a diminuir a influência das forças de inércia, e favorecer as condições de mobilidade, ou, alguns tipos de concretos requerem a limitação do diâmetro máximo por limitar concentrações de tensão.

-Atendimento aos requisitos de projetos e à escolha dos materiais componentes.

Neste sentido se considera os requisitos de desempenho para o concreto nos estados fresco e endurecidos. Por exemplo, nos casos de fluidez e mobilidade, em concretos bombeados, com imposição de limitação do diâmetro máximo e escolha adequada da granulometria, assim como com a utilização de aditivos dispersantes; ou no caso do concreto autoadensável, o qual requer uma grande quantidade de pasta, limitação do diâmetro máximo, condições de fluidez e de mobilidade, sem que ocorram a segregação e a exsudação, e com a utilização finos, e de aditivos superplastificante e de agentes de viscosidade.
Para os casos de estruturas que requerem ductilidade recorre-se ao uso de fibras, mas estas devem ser escolhidas dentre uma variedade que envolve diferentes dimensões, materiais, implicando em diferentes propriedades elásticas e de resistência mecânica, de rugosidade, de aderência à matriz e à ancoragem.

-Recebimento e aceitação do concreto.

O concreto fresco pode ser recebido mediante os ensaios de validação, de modo a poder conferir as propriedades requeridas e que atestem as condições de aplicação.
Para o recebimento do concreto são realizados normalmente os ensaios que atestem a consistência do concreto em compatibilidade com os meios tecnológicos que serão adotados para o seu transporte, lançamento e adensamento. Para os casos de concretos vibrados se utiliza o ensaio de abatimento, prescrito conforme a NBR NM 67.
Do fato que os concretos podem ser produzidos em obras ou fornecidos por central, distingue-se as orientações, conforme a NBR 12655:2015:
Quando o concreto é produzido na obra, os ensaios devem ser realizados conforme se caracterize as seguintes condições: na primeira amassada do dia; ao preparo após a interrupção dos serviços quando esta decorre em ao menos 2h; quando se troca os operadores; sempre que forem moldados corpos de prova; e quando houver alteração da umidade dos agregados.
Quando se trata de concreto produzido por empresa de fornecimento de concreto os ensaios devem ser realizados a cada betonada.
No caso de se tratar de concreto autoadensável devem ser realizados os ensaios de validação com base nos ensaios de “espalhamento” e de “habilidade passante” com base no que prescreve as normas NBR 15823-2 e NBR 15823-3 respectivamente. 
  
-O responsável pela obra também deve atentar para o prazo da retirada dos escoramentos, em idades particulares compatíveis com o ganho de resistência mecânica da estrutura, a partir das condições materiais e do contexto ambiental.

-O responsável também deve atender aos requisitos da norma para a liberação da protensão e da desforma dos elementos pré-moldados do concreto, e da rastreabilidade do concreto lançado na estrutura.

O responsável pelo projeto estrutural

Cabe a este profissional exprimir em desenhos e memórias que descrevem o projeto:

-O registro da resistência característica do concreto, dado por fck.

Este valor é definido com base no levantamento de cargas do projeto, e em sua forma final é assumido como uma forma probabilística, baseada nas sistemáticas de cálculo estrutural, orientado conforme a ABNT NBR 6118:2014.

-Especificação do fck para as etapas da obra. No caso a retirada dos cimbramentos, da aplicação da protensão, ou no manuseio dos pré-moldados.

-Especificação dos requisitos correspondentes à durabilidade das estruturas e vida útil durante a sua vida útil, inclusive da classe de agressividade adotada em projetos.

-Especificação dos requisitos às particularidades especiais do concreto durante a fase construtiva e vida útil da estrutura.

Controle sobre a resistência mecânica do concreto

Para a estimativa da resistência à compressão do concreto pode-se recorrer aos ensaios mecânicos orientados pela NBR 5739:2018. Para tanto, as amostras devem ser coletadas e preparados os corpos de prova segundo critérios de amostragem e de avaliação das normas NM 33:1998 e NBR 5738:2016.

Dentro da sistemática são estabelecidos lotes que podem ser definidos em função do volume de concreto, andar tipo, ou de tempo de concretagem. As amostras devem ser de uma mesma amassada, e os corpos de prova devem ser rompidos à idade de 28 dias de cura.

Dos valores alcançados nos ensaios mecânicos pode se calcular o valor de f ck est. Para este cálculo pode se tomar em consideração os diferentes tipos de controle de avaliação, expressos conforme a norma NBR 12655:2015.
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Referências bibliográficas

ABESC (Associação Brasileira das Empresas de serviços de concretagem) Concreto dosado em central São Paulo 59p.
 Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 12655 Concreto de cimento Portland- preparo, controle, recebimento e aceitação - procedimento. Rio de Janeiro, 2015, 29p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 6118 Projetos de estrutura de concreto-procedimentos, 2014, 238p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 8953 Concretos para fins estruturais-classificação pela massa específica, por grupos de resistência e consistência. Rio de Janeiro, 2015, 7p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 15823-2 Concreto autoadensável Parte2: Determinação do espalhamento, do tempo de escoamento e do índice de estabilidade visual-Método do cone de Abrams Rio de Janeiro, 2017,5p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 15823-3 Concreto autoadensável Parte3: Determinação da habilidade passante, Rio de Janeiro, 2017,4p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 5738 Concreto-Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova, 2016, 9p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 5739 Concreto-Ensaios de compressão de corpos de prova, 2018, 9p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR 33 Concreto-Amostragem de concreto fresco, 1998, 5p.

Associação Brasileira de Normas técnicas. NBR NM 67 Concreto-Determinação da consistência pelo ensaio do cone de Abramns, Rio de Janeiro, 2008, 8p.

BATLOUNI NETO, J. Diretrizes do projeto de estrutura para a garantia do desempenho e custo CONCRETO:CIÊNCIA E TECNOLOGIA, IBRACON/GERALDO ISAIA, Vol. 1, 2011, p.127-156I