Marco Antônio de Morais Alcantara
Introdução
A durabilidade do
concreto é um tema que tem grande importância ao longo da discussão dos
conceitos acerca do concreto como um material. A compatibilidade entre o concreto fresco e o concreto
endurecido, as propriedades do concreto endurecido, o uso de aditivos, e a química do cimento apontam para a questão da
durabilidade do concreto, distinguindo-se como aspectos a caracterização do concreto, a permissividade do concreto ao meio,
e a atividade química do concreto. Diante das discussões já levantadas, convém
trazer um quadro de atuação no sentido de se promover melhores condições para a
durabilidade do concreto à longo
prazo, o qual procura-se apresentar nesta unidade de estudo.
Objetivos
O objetivo da unidade
é apresentar as principais formas de atuação no sentido de se proporcionar as
condições mais favoráveis à durabilidade do material concreto, envolvendo
principalmente escolha de materiais, o proporcionamento dos materiais, o
processo tecnológico, e o conhecimento do contexto.
Principais formas de atuação no sentido de se favorecer a
durabilidade do concreto
As formas de atuação
no sentido de se favorecer a durabilidade
do concreto podem ser agrupadas de acordo com alguns temas básicos, a saber:
a) Cuidados com
relação ao tipo de aglomerante:
Deve-se utilizar os
aglomerantes que poderão resistir ao ataque químico proporcionado pelas
condições de exposição em que eles serão submetidos.
Deve-se conhecer as
peculiaridades do cimento na hidratação
ou na cura, como por exemplo quanto
ao calor de hidratação liberado, ou quanto ao consumo de água, e proceder-se aos cuidados necessários, de modo a
proporcionar por exemplo a diminuição do calor de hidratação por meio de
aditivos retardadores de pega, ou, no caso da demanda maior por água na cura,
fornecer ao concreto a água necessária
de modo que a retração possa ser
controlada. Os cimentos de alto forno e pozolânicos tendem a requerer mais água.
Deve-se conhecer o
comportamento do cimento quanto à reatividade
potencial com relação ao agregado, e atentar para a utilização do cimento
Portland Pozolânico quando for o
caso, como forma de atuação no sentido de se minimizar as reações álcali-agregado.
É evidente que o tipo
de preocupação estará associado ao tipo particular de obra em execução.
b) A dosagem:
Deve-se utilizar a
quantidade mínima de água no
concreto, compatível com a trabalhabilidade necessária; pode-se, quando
conveniente, utilizar aditivos plastificantes ou fluidificantes, de modo a se
diminuir a quantidade de água do
concreto necessária para a trabalhabilidade. Deve-se atentar para as
possibilidades de ocorrência de segregação ou de exsudação no
concreto quando em fases de estudo de dosagem, e corrigir o traço final;
c) Os agregados para concreto:
Deve-se utilizar agregados de modo que o
arranjo total formado seja o mais compacto possível, de modo a se promover a impermeabilidade do concreto.
Deve-se utilizar
agregados que no geral apresentem a menor
superfície específica, de modo a se diminuir as possíveis regiões com baixa
aderência, e a formação de caminhos
preferenciais para a percolação da
água no concreto.
Deve-se utilizar
agregados que proporcionem o menor consumo de água e argamassa para envolver o
concreto.
Deve-se proceder aos
exames de sanidade dos agregados e a
avaliação do grau de intemperismo;
Deve-se conhecer o
comportamento dos agregados quanto à reatividade potencial com os álcalis do
cimento.
d) As condições de cura:
Deve-se proceder a cura de forma sempre
cuidadosa, atentando-se para os casos onde é utilizado cimento com elevado
consumo de água, para os casos dos dias quentes, e em qualquer outra situação que favoreça a rápida perda d’água do concreto por
evaporação.
e) O processo
tecnológico:
Deve-se atentar para as compatibilidades entre
as condições do concreto fresco e o processo tecnológico adotado, de modo que o
concreto não perca a homogeneidade; deve-se atentar para as etapas do processo,
em particular às fases de lançamento e de vibração, de modo a que o concreto
não perca a homogeneidade, e não venha a promover a segregação.
f) As condições
particulares de exposição:
As condições de exposição do concreto são
pré-definidas, e difíceis de serem modificadas. As formas de atuação, em geral,
neste caso, estão relacionadas com os procedimentos que podem ser adotados no
sentido de se capacitar o material a apresentar bom desempenho frente a estas situações.
Deve-se adotar
cuidados necessários, como por exemplo, é envolvida a química do cimento. No caso de obras sujeitas à pressão da água, como em barragens, um
cimento rico em “cal hidratada após
a hidratação” constitui-se em um cimento com pouca recomendação, visto que a
exigência é muito grande com relação à impermeabilidade, e a ação de dissolução
da água sobre a cal hidratada poderá favorecer o aumento da permeabilidade.
Recomenda-se, para estes casos, a utilização do cimento Pozolânico.
Conscientização e
recomendações com relação aos riscos e às estruturas
Algumas orientações e recomendações podem ser
feitas com relação à questão da agressividade do meio e dos cuidados para com o
concreto. Em primeiro lugar deve-se conhecer o grau de agressividade do meio e
os riscos que este pode implicar para o concreto. Isto é apresentado conforme
informações da Tabela 1, apresentada conforme a ABNT NBR 12655:2015, apresentada
a seguir.:
A Tabela 1 apresenta
as classes de agressividade ambiental de acordo com o ambiente:
Classe de agressividade ambiental
|
Agressividade
|
Classificação geral do tipo de
ambiente para efeito de projeto
|
Risco de deterioração da estrutura
|
I
|
Fraca
|
Rural
|
Insignificante
|
Submersa
|
|||
II
|
Moderada
|
Urbana a,b
|
Pequeno
|
III
|
Forte
|
Marinha a
|
Grande
|
Industrial a,b
|
|||
IV
|
Muito forte
|
Industrial a,c
|
Elevado
|
Respingos de maré
|
“a” Pode admitir um microclima com
uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) para ambientes
internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e áreas de serviço de
apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com concreto
revestido com argamassa e pintura).
“b” Pode-se admitir uma classe de
agressividade mais branda (um nível acima) em obras em regiões de clima seco,
com umidade relativa do ar menor ou igual a 65%, partes da estrutura protegidas
de chuva em ambientes predominantemente secos, ou regiões onde chove raramente.
“c” Ambientes quimicamente
agressivos, tanques industriais, galvanoplastia, branqueamento em indústrias de
celulose e papel, armazéns de fertilizantes e indústrias químicas.
FONTE: ABNT NBR 12655:2015
Diante dos riscos
apresentados, a ABNT 12655:2015 estabelece uma relação entre as classes de
agressividade e o parâmetro da relação água/cimento, e o consumo de cimento por
m3, para os casos de concreto armado ou protendido.
Tabela 2:
Correspondência entre classe de agressividade e a qualidade do concreto e os
parâmetros
Concreto
|
Tipo
|
Classe de agressividade
|
|||
I
|
II
|
III
|
IV
|
||
Relação água/cimento em massa
|
CA
|
Menor ou igual a 0,65
|
Menor ou igual a 0,60
|
Menor ou igual a 0,55
|
Menor ou igual a 0,45
|
CP
|
Menor ou igual a 0,60
|
Menor ou igual a 0,55
|
Menor ou igual a 0,50
|
Menor ou igual a 0,45
|
|
Classe de concreto
(ABNT NBR 8953)
|
CA
|
Maior ou igual que C20
|
Maior ou igual que C25
|
Maior ou igual que C30
|
Maior ou igual que C40
|
CP
|
Maior ou igual que C25
|
Maior ou igual que C30
|
Maior ou igual que C35
|
Maior ou igual que C40
|
|
Consumo de cimento Portland por
metro cúbico de concreto kg/m3
|
CA e CP
|
Maior ou igual a 260
|
Maior ou igual a 280
|
Maior ou igual a 320
|
Maior ou igual a 360
|
CA Componentes e elementos estruturais
de concreto armado.
CP Componentes e elementos
estruturais de concreto protendido
|
FONTE: ABNT NBR 12655:2015
Algumas condições de
exposição são particulares são apresentadas ainda, de modo a se fixar limites
para com o valor da relação água/cimento, de modo que a ABNT NBR 12655:2015
apresenta as recomendações conforme a Tabela 4, apresentada a seguir.
Tabela 3: Requisitos
para o concreto, em condições especiais de exposição
Condições de exposição
|
Máxima relação água/cimento, em
massa, para concreto com agregado normal
|
Mínimo calor de fck (para concreto
com agregado normal ou leve) MPa
|
Condições em que é necessário um
concreto de baixa permeabilidade à água, por exemplo, em caixas d’água
|
0,5
|
35
|
Exposição à processos de
congelamento e descongelamento em condições de umidade ou agentes químicos de
degelo
|
0,45
|
40
|
Exposição à cloretos provenientes
de agentes químicos de degelo, sais, água salgada, água do mar, ou respingos
ou borrificação destes agentes
|
0,45
|
40
|
FONTE: ABNT NBR 12655:2015
Para os casos de
agressividade por sulfatos, a ABNT NBR !2655:2015 estabelece valores de relação
água cimento e de fck mínimo, conforme o grau de agressividade e do
teor de sulfatos presentes na água ou no solo. As informações sobre os valores
estão apresentados na Tabela 4, a seguir.
Tabela 4- Requisitos
para concreto exposto a soluções contendo sulfatos
Condições de exposição em função da
agressividade
|
Sulfato solúvel em água (SO4)
presente no solo
% em massa
|
Sulfato solúvel (SO4)
presente na água
ppm
|
Máxima relação água/cimento, em
massa, para concreto com agregado normal a
|
Mínimo fck (para concreto com
agregado normal ou leve)
MPa
|
Fraca
|
0,00 a 0,10
|
0 a 150
|
Conforme Tabela 2
|
Conforme Tabela 2
|
Moderada b
|
0,10 a 0,20
|
150 a 1500
|
0,50
|
35
|
Severa c
|
Acima de 0,20
|
Acima de 1500
|
0,45
|
40
|
“a” Baixa relação água/cimento ou
elevada resistência podem ser necessárias para a obtenção de baixa
permeabilidade do concreto ou proteção contra a corrosão de armadura ou
proteção a processos de congelamento e degelo.
“b” A água do mar é considerada para
efeito do ataque de sulfatos como condição de agressividade moderada, embora o
seu conteúdo de SO4 seja acima de 1500 ppm, devido ao fato de que a etringita é
solubilizada na presença de cloretos.
“c” para condições severas de
agressividade , devem ser obrigatoriamente usados cimentos resistentes à
sulfatos.
No caso de sulfatos, deve-se atentar
para o grau de agressividade do meio, e proceder-se a escolha do aglomerante
adequado, em especial que possa resistir a ação de sulfatos, tais como os à
base de escória e pozolânicos.
FONTE: ABNT NBR 12655:2015
Ainda, com relação
aos cloretos, a ABNT NBR 12655:2015 estabelece os teores máximos admissíveis
conforme o grau de agressividade e o tipo e condições de serviço da estrutura,
sendo as informações apresentadas na Tabela 5.
Tabela 5- Teor máximo
de íons cloreto para proteção das armaduras do concreto
Classes de agressividade
(Segundo a Tabela 1)
|
Condições de serviço da estrutura
|
Teor máximo de íons cloreto (Cl -
)
|
Todas
|
Concreto protendido
|
0,005
|
III e IV
|
Concreto armado exposto a cloretos
nas condições de serviço da estrutura
|
0,15
|
II
|
Concreto armado não exposto a
cloretos nas condições de serviço da estrutura
|
0,30
|
I
|
Concreto armado em brandas
condições de exposição (seco ou protegido da umidade nas condições de serviço
da estrutura)
|
0,40
|
FONTE: ABNT NBR 12655:2015
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Associação Brasileira de
Normas técnicas.
NBR 12655 Concreto de cimento Portland- preparo, controle, recebimento e aceitação
- procedimento. Rio de Janeiro, 2015, 29p.
LIMA, M.G Ações do meio ambiente sobre as estruturas
de concreto. Concreto: Ciência e
tecnologia, Vol1, São Paulo, IBRACON, 2011, p.733-772
SOBRAL, S.H. Durabilidade dos concretos. São Paulo,
Estudo técnico 43, ABCP, 1985, 52p.