segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

OS SISTEMAS DE REVESTIMENTO E O DESEMPENHO ADEQUADO

 


Marco Antônio de Morais Alcantara

Os revestimentos constituem-se em parte do acabamento de uma construção, e assumem alguns requisitos especiais para o desempenho, podendo, para o atendimento destes requisitos, se compor em elementos diversos, associados. Estão sujeitos a contingências particulares, pelas quais eles devem ser pensados de maneira cuidadosa, em razão do elemento da construção que eles representam, sobre como eles interagem com o ambiente envolvente, e ainda mesmo com relação à região onde a obra esteja localizada. Os elementos que compõem o sistema de revestimento podem interagir entre eles, devendo haver compatibilidades, sobretudo, quando as interações são influenciadas por ações térmicas, mecânicas, químicas e físico-químicas.


As funções do revestimento e os seus requisitos

As principais funções dos revestimentos são:

-Proteger o substrato do acesso da umidade, e da consequente “expansão-contração”, e da perda de massa;

-resguardar o material do ciclo térmico, os quais também induzem à ciclos de dilatação e de contração;

 -colaborar com o isolamento térmico e acústico do edifício;

-promover o condicionamento térmico e acústico, no sentido de melhorar as condições de ambiência;

-favorecer as condições de salubridade do ambiente;

-dar um acabamento final de boa estética ao ambiente.

 

As disfunções do revestimento quando não cumpridos os seus requisitos

No descumprimento destas funções poderá se conduzir aos seguintes eventos:

-Concentrações de tensões internas no revestimento;

- microfissuração interna;

-aumento da permeabilidade do sistema;

-acesso de sais e substâncias nocivas que poderão contribuir para a formação de manchas, eflorescências, queda de revestimento e corrosão de armaduras;

-perda massa interna;

-descolamentos e desplacamentos na fachada;

-formação de bolor e de mau cheiro no interior da edificação;

-prejuízos à saúde;

-ausência de conforto ambiental.   

 

Contextos particulares à que possam estar sujeitos os acabamentos

Os acabamentos podem estar sujeitos à contextos diferenciados, tais como, se o acabamento é interno, ou se ele é externo, o qual pode ainda ser visto como no caso de ser uma fachada de edifício. Nestes casos pode haver a influência de elementos tais como pingadeiras, frisos, platimbandas e outros.

O acabamento interno deve promover condições de durabilidade, estética e de conforto ambiental. O acabamento externo tem os mesmos requisitos, e está mais exposto às intempéries, tais como a precipitação, a insolação, a radiação ultra violeta, os ventos, e isto pode influenciar na durabilidade de pinturas, no descoloramento do acabamento, no ressecamento e na retração de argamassas, na diminuição da impermeabilidade, e ainda, as consequências podem interferir em outros elementos, como no favorecimento da corrosão de armaduras.

 

Os sistemas de revestimento

A seguir serão apresentados os principais sistemas de revestimentos, com base na ideia de um tipo de substrato, e de um tipo de acabamento. Estes podem ser compreendidos conforme a Tabela 1:


Tabela 1: Opções para a natureza do substrato e do acabamento

Substrato

Tijolo cerâmico, bloco cerâmico, concreto, bloco de concreto, argamassa

Acabamento

Reboco, azulejo, cerâmica, pastilhas, e outros

 

Os principais sistemas de acabamento adotam um tipo de substrato e um tipo de acabamento que será fixado; em sua maioria, eles são como os que se apresentam a seguir, dados por: 


Substrato/argamassa/revestimento de pintura

 Para este caso, se considera primeiramente as seguintes possibilidades:

- O acabamento final é à base de pintura ou de algum sistema alternativo.

O revestimento para este tipo de situação é tradicionalmente constituído por argamassa, compostas de: chapisco, emboço e reboco, e pode ser visualizado conforme a Figura 1.

Figura 1: Sistema de acabamento com argamassa e acabamento final de pintura

O chapisco tem por finalidade promover a criação de uma camada de aderência ao substrato na interface entre este e o emboço, em especial, quando a superfície do substrato for lisa, como nos casos dos blocos cerâmicos laminados, e do concreto. Isto é para que a camada de revestimento a ser incorporado tenha melhores condições de ancoragem e de fixação ao substrato. Uma outra importância para o chapisco é a de ele ser uma camada impermeabilizante que proteja o substrato da umidade, em especial quando for em ambiente externo. Já o emboço, ele se constitui em uma camada de regularização, em termos da formação de uma superfície plana, e de espessura adequada. E finalmente, o reboco tem por finalidade ser a camada de acabamento antes de se aplicar a pintura.

Estas camadas ainda podem ser complementadas com outros materiais, como, por exemplo, a massa corrida, para melhorar as condições de regularidade de superfície.

Em lugar da pintura, pode-se aplicar ao reboco algum tipo de tratamento alternativo, como nos casos da barra lisa de cimento, ou a nata de cal.

Pode-se ainda adotar o chapisco ou o reboco como acabamento final, respeitando-se os procedimentos de execução e a qualidade final.

Em tempos mais recentes, o revestimento com argamassa tem sido muitas vezes realizado com uma só camada, de argamassa industrializada, substituindo simultaneamente o chapisco, o emboço e o reboco, ou aplicada sobre o chapisco, e atende às exigências técnicas dos sistemas com 3 camadas. Esta é conhecida como “massa única” (Figura 2). 

Figura 2: Sistema com a utilização de massa única

Ainda, para este tipo de sistema, pode-se aplicar como revestimento uma massa única que já contenha também a pigmentação, de modo a ser o acabamento final.

Para os casos de pintura deve-se considerar a questão da interface substrato pintura, dos pontos de vista da condição de ancoragem do filme formado, e das condições de compatibilidade química; quando seja o caso, deve-se considerar a questão da alcalinidade do substrato e de realizar o tratamento adequado, com um primer específico; a parede também deve estar isenta de sujeira e de umidade; o tempo de cura do reboco deve ser respeitado. A ausência destes cuidados tem conduzido a patologias tais como o empolamento das pinturas, a formação de bolhas, os descolamentos, as manchas, e até mesmo a queda do revestimento, quando a superfície é impermeabilizada prematuramente, e o processo de cura do reboco então seja interrompido.

Conforme apresentado no início desta seção, uma outra possibilidade para os sistemas de acabamento pode ser compreendida da seguinte forma:

-O revestimento final não é constituído à base de argamassa. O sistema é apresentado conforme a Figura 3.

Figura 3: Sistema de revestimento onde o acabamento final não é pintura.
   

Este é o caso em que o acabamento final poderá ser à base de material cerâmico, pastilhas, pedras naturais, madeira, plásticos e outros.

De modo generalizado, o sistema poderá contar com: 

Substrato/argamassa/revestimento

Aqui a argamassa será classificada como “argamassa de junta”, com as suas exigências particulares de compatibilidade com os outros dois elementos.

O material de acabamento poderá dar alguma contrapartida especial, como um bom condicionante no ambiente. No caso das madeiras, por exemplo, esta poderá dar melhores condições de propagação acústica, fato que em muitos auditórios este tipo de revestimento é utilizado. Paredes mineralizadas nos dão péssimas sensações quanto a propagação, reflexão e reverberação do som.

Alguns materiais de revestimento também podem contribuir para o isolamento térmico, como no caso da cortiça.

Os materiais de acabamento também deverão estar compatíveis com as condições ambientais, de maneira a proporcionar o melhor desempenho e melhores condições de durabilidade. Para tanto são consideradas as condições de insolação, orientação do edifício, precipitação, direção predominante dos ventos, permissividade e permeabilidade.

Quanto à argamassa de junta, esta deverá estar compatível com o nível de resistência, e de resiliência dos outros elementos.

O sistema deverá trabalhar de modo solidário. Às argamassas são concedidos papéis muito importantes tais como a aderência à base, capacidade de resistir aos esforços advindos, tanto do desempenho dela como das interações com outros subsistemas do edifício; deve contribuir com o isolamento térmico e acústico, estanqueidade à água e aos gases, ter resistência ao fogo, e ter características superficiais e permeabilidade compatíveis com o uso.

Para os casos de revestimentos cerâmicos em fachadas o sistema pode ser compreendido como:

Base/chapisco/substrato (emboço)/argamassa adesiva/cerâmica

Este é ilustrado na Figura 4.

Figura 4: Sistema de revestimento com o acabamento final em cerâmica

Para se adequar melhor à nomenclatura de literatura, aqui o substrato é representado pela argamassa, e o antigo substrato, como a alvenaria ou o concreto, é compreendido como "base". Este está sujeito à movimentação. Ainda tem o elemento "argamassa colante", de modo a melhorar a adesão do revestimento ao substrato.

As argamassas colantes são compostas normalmente por cimento, fíler inerte, e resinas orgânicas. O cimento tem por finalidade conferir a resistência mecânica, enquanto que o fíler contribui para dar corpo à massa, sendo inativo quimicamente; já as resinas contribuem para auxiliar na fixação ao substrato, promover melhor retenção de água e a melhoria das condições de plasticidade.

As argamassas colantes são pré-industrializadas, na forma de pó, e recebem a adição de água na obra. Comparadas aos casos das argamassas tradicionais, estas contribuem tanto para a racionalização da construção como para a maior produtividade.

Dentro do sistema apresentado, o substrato absorve os esforços de movimentação da base, amenizando as tensões que seriam transmitidas ao revestimento cerâmico. Dois aspectos importantes da argamassa que compõe o substrato são a espessura desta e a retração, que deverão ser compatíveis com o nível de tensões e de deformação nas interfaces. .

Um elemento importante dentro dos revestimentos à base de componentes é o rejunte. Este deverá proporcionar a impermeabilidade requerida, de modo a não haver infiltração para dentro do sistema.


Bibliografia

AZEREDO, H.A. O edifício e o seu acabamento, São Paulo, 1987, ABDR, 178p.

MEDEIROS, J.S; SABBATINI, F.H. Tecnologia e projetos de revestimento cerâmicos de fachadas de edifícios, São Paulo, EPUSP, 1999, Boletim técnico PCC no 246