Marco Antônio de Morais Alcantara
Os
agregados são os materiais mais heterogêneos
utilizados na fabricação dos concretos e argamassas. Conforme as
características particulares que estes apresentam, podem exercer influências no
produto final, resultando em alterações globais em nível técnico, econômico, e de
viabilidade de aplicação. Como
ilustração, são apresentadas as seguintes coisas: A dimensão máxima do agregado, permitindo ou não a passagem destes pela armação da estrutura em construção; a granulometria e a superfície de contato dos grãos, implicando em maior ou menor consumo de aglomerante para recobrir
os grãos; ou a granulometria e a uniformidade
de tamanho dos grãos, na condição de
empacotamento destes. Dentre os fatores circunstanciais, a umidade pode influenciar na condição de
volume do material fino, ou na
quantidade extra de água incorporada
ao concreto. Para o entendimento geral e controle sobre estas situações, se
requer inicialmente o conhecimento básico acerca das principais formas de se
caracterizar os agregados, os quais são apresentados nesta unidade de estudo.
Objetivos da unidade: Os objetivos da unidade
consistem em apresentar os principais meios de se distinguir os agregados sob o
ponto de vista de sua caracterização e estado
A caracterização dos agregados
A caracterização dos agregados
A
caracterização dos agregados pode ser considerada a partir do valor da densidade. Convém considerar que a
densidade é definida como a relação entre a massa específica de um determinado
material, com relação á massa específica da água.
A “densidade real” é definida tomando-se
por base a relação entre a massa dos
agregados, e o volume que eles
realmente ocupam. Por outro lado, a densidade
aparente é a relação entre a massa dos agregados, e o volume total
destes, incluindo os vazios. A
densidade é um valor adimensional, e
é estimada para os agregados em torno dos valores apresentados no Quadro 1:
Quadro 1: Propriedades de alguns agregados com relação ao valor da densidade
Tipo de material
|
Densidade aparente
|
Densidade real
|
Areia
|
1,60
|
2,65
|
Seixo rolado
|
1,50
|
2,65
|
Brita
|
1,30
|
2,65
|
Agora,
vamos passar para as questões sobre o
“tamanho” dos agregados. Isto envolve por exemplo a porcentagem dos
agregados de determinada amostra que se enquadrem em determinadas dimensões; ou qual é o diâmetro máximo que pode apresentar um
elemento de uma amostra; ou ainda quão fino
ou grosso é determinado material.
Para tanto é realizado o ensaio de
granulometria dos agregados.
O
ensaio com agregados para a avaliação da granulometria
é realizado por meio do peneiramento
destes. Para tanto, existe um conjunto de peneiras com diferentes valores de abertura de malha, de forma que a
disposição destas favoreça a passagem dos
agregados por todas elas, desde a de maior abertura até a menor, e, partes
diferentes do conjunto de agregados podem ser retidas nas diferentes peneiras.
Professor, as
peneiras a serem utilizadas nos ensaios são sempre do mesmo tipo?
Não.
Existem algumas séries de peneiras que podem ser utilizadas em ensaios de
granulometria. Estas podem variar quanto a definição da abertura ou quanto ao tipo
desta, podendo as peneiras apresentar abertura quadrada e definida por
“tela”, ou redondas, tipo crivos. Outra diferenciação é quanto à
distinção da série. Uma peneira de
uma série pode ser distinguida pelo tamanho
da abertura, ou pelo número de malhas disponíveis em uma polegada. A ABNT adota a série Normal
para a realização de ensaios de granulometria,
e esta é caracterizada pelo fato de que cada peneira da série apresenta
abertura que corresponde aproximadamente ao dobro da anterior. Deste modo tem-se a sequência. Para fins de refinamento, existe a série
denominada por Série Intermediária.
Desta última série, são anexadas à série Normal as peneiras como as de 25,00 e 50,00 mm, e outras. A série normal e intermediária são apresentadas a seguir no Quadro 2:
Quadro 2: Aberturas das peneiras utilizadas para os ensaios de granulometria
Série normal |
Série intermediária |
75 mm |
- |
- |
63 mm |
- |
50 mm |
37,5 mm |
- |
|
31,5 mm |
|
25 mm |
19 mm |
- |
|
12,5 mm |
9,5 mm |
- |
- |
6,3 mm |
4,75 mm |
- |
2,36 mm |
- |
1,18 mm |
- |
600 µm |
- |
300 µm |
- |
150 µm |
- |
|
|
Fonte: NBR NM 248
Agora,
vamos atentar para os resultados dos ensaios que são de interesse.
A porcentagem de agregado retida em uma peneira é tomada por base no peso do material retido
na determinada peneira, e no peso do material total que foi ensaiado. É
evidente que o ensaio é realizado a partir de uma quantidade previamente
definida e pesada dos materiais. A porcentagem que passa é a diferença de 100
menos a porcentagem retida na peneira.
As
porcentagens retidas em uma determinada peneira não representam o conjunto
isoladamente, mas são analisadas em conjunto, definindo-se por exemplo:
a)
A porcentagem retida acumulada.
Esta é a soma da porcentagem retida
em uma peneira, e das retidas nas
peneiras que apresentam aberturas nominais maiores
do que ela. Por exemplo, se determinado material é retido na peneira de 9,50 mm de abertura, certamente ele
será na peneira de 4,80 mm.
b) Diâmetro máximo do agregado. É a
abertura da peneira, na qual a porcentagem acumulada
é menor do que 5%, ou
aproximadamente igual.
c) Módulo de finura do agregado. É
a somatória das porcentagens acumuladas
nas peneiras, dividido por 100. Para
o cálculo do módulo de finura não
são consideradas as peneiras de 25,00
mm e 50,00 mm de abertura, visto que
elas não pertencem à série Normal.
O
material que passa na peneira de 0,075
mm é chamado de Fíler.
Professor,
como são utilizadas estas informações?
Os
dados de granulometria são úteis por exemplo para se traçar a curva granulométrica. Esta tem
por finalidade caracterizar o
agregado quanto à distribuição de granulometria, como, por exemplo,
diferenciando se o conjunto é muito
uniforme quanto ao tamanho dos
grãos, ou apresenta granulometria com distribuição mais contínua. Na Figura 1, percebe-se que para o caso do agregado miúdo
representado pela curva C1 , a distribuição granulométrica se apresenta
com variação menos brusca do o que é
representado pela curva C4 , assim como, o agregado
graúdo representado pela curva C2 apresenta a distribuição
menos uniforme. Na Figura 2, as
mesmas curvas C1 e C2 estão ilustradas como agregado miúdo e
agregado graúdo, e a curva C3 é uma possível curva granulométrica ideal, com distribuição granulométrica contínua, que deve ser imitada
em um caso de produção de concreto a partir de uma manipulação tomando-se
partes adequadas do agregado graúdo e do agregado miúdo. O módulo de finura expressa o quão fino é o material, porém este é
menor quanto mais fino for o material.
A granulometria e o diâmetro máximo do agregado definem qualidades permanentes ao conjunto de agregados, como por exemplo as
facilidades que eles apresentam para serem manuseados,
ou as facilidades que eles apresentam para serem “empacotados” . A propósito, o coeficiente de vazios é definido como a relação entre o volume de vazios formado pelo conjunto dos agregados, e o volume total do material.
As condições em que podem se apresentar os agregados
Quanto à variações circunstanciais nas condições apresentadas pelos agregados, pode-se apresentar a água como grande contribuinte para tais variações.
Cv = Vv/Vt
Figura
1: Curvas granulométricas apresentando casos de agregados miúdos e graúdos com
diferentes condições de uniformidade
Figura
2: Curvas granulométricas de agregado miúdo, agregado graúdo, e de agregado com
granulometria ideal
As condições em que podem se apresentar os agregados
Quanto à variações circunstanciais nas condições apresentadas pelos agregados, pode-se apresentar a água como grande contribuinte para tais variações.
O teor de umidade é definido como
a relação entre a diferença entre a massa úmida de um agregado e a massa seca,
com relação à massa seca ou seja:
h = (Mh - Mo)/M0
O teor de umidade pode ser apresentado em porcentagem, multiplicando-se o valor
encontrado por 100.
Professor,
como é realizada a avaliação da massa seca do agregado?
A
avaliação da massa seca é realizada após a secagem
do material em estufa, a
aproximadamente 105 0C, quando é verificada a constância na avaliação.
Professor,
qual é a importância da umidade para o agregado?
A umidade é muito importante, ou preocupante para os
agregados por duas razões:
Quando
é realizado um estudo de dosagem do
concreto, a quantidade de água a ser adicionada normalmente é previamente
estabelecida, em função da resistência
mecânica requerida, e do manuseio
do material.
De modo geral, a massa real do agregado tomado em uma porção é dado por:
De modo geral, a massa real do agregado tomado em uma porção é dado por:
Ms = Mh/(1+h)
onde:
Mh - Ms
é a quantidade de água que deve então ser
descontada da quantidade de água a ser adicionada na preparação do
concreto.
Outro
aspecto importante quanto á umidade é a influência da umidade do agregado na
variação de volume deste; é o inchamento. Conforme a variação
do teor de umidade, o agregado miúdo
pode apresentar também variação de
volume, até certo limite, denominado por
umidade crítica. A partir deste valor a variação de volume
tende a diminuir. O valor do
inchamento em porcentagem é definido
por:
onde:
Vh representa o volume do material no estado
úmido;
Vo representa o volume do
material no estado seco em estufa.
Professor, o
que faz com que o inchamento tenha um valor limitado?
Isto
se deve ao modo pelo qual o processo de inchamento é conduzido. No início, a
água é adsorvida à superfície das
partículas, se interpondo entre
elas, promovendo o distanciamento entre elas. Com o aumento do teor de umidade,
a quantidade de água incorporada ao material se torna maior, alcançando-se o
estágio onde a água passa a preencher os vazios
do agregado, não trazendo então mais contribuição para o efeito do inchamento.
Em situação extrema tem-se a presença de areia na água, ao invés de se ter água
na areia.
O coeficiente de inchamento é dado
por:
Vh /Vo = d0/dh.[(100 + h)/100]
onde:
dh representa a densidade
aparente do agregado no estado úmido;
do representa a densidade
aparente do agregado no estado seco;
Uma
questão que se levanta é:
Os
agregados apresentam a mesma tendência para o inchamento?
O inchamento é uma característica dos agregados miúdos. Em face da menor dimensão e do aumento da superfície específica, estes apresentam
maior interação com o meio e com a água. Quanto mais fina for a areia, maior será a sua tendência para o inchamento.Os coeficientes médios de inchamento
são dados de forma aproximada por 1,30 para a areia fina, 1,25 para a areia média,
e 1,20 para a areia grossa.
Mestre, quais
são os valores usuais em que o agregado miúdo pode se encontrar?
Uma
areia que não apresenta estar úmida, pode apresentar umidade em valor
aproximado de 3% . Os valores de
umidade das areias em obras se situam em torno de 4%, e este valor já é bastante próximo dos valores onde os valores
do inchamento já são máximos, 5 a 6%.
Uma areia é bastante úmida quando apresenta umidade em torno de 7%.
Bibliografia
PETRUCCI, E. Concreto de Cimento Portland, São Paulo, Globo, 1980,
Sobre o autor:
Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.
Bibliografia
BAUER, L.A.F. Materiais de Construção. vol. 1. Rio de Janeiro: LCT. 1994. 531p.
NEVILLE, A. M. Propriedades do Concreto. São Paulo: Pini, 1997, 828p.
Sobre o autor:
Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.