quinta-feira, 19 de julho de 2018

ALVENARIA ESTRUTURAL: CONCEPÇÃO DE SISTEMA, FUNCIONALIDADE E PECULIARIDADES DE CONSTRUÇÃO



Créditos da foto: Gislaine Bianchi

Sistemas construtivos

Marco Antônio de Morais Alcantara

Por alvenaria estrutural se compreende historicamente um sistema construtivo definido a partir da reunião de unidades como blocos ou pedras, rejuntados ou não com argamassa, de modo que os esforços de compressão ou das ações do vento sejam resistidos por esse sistema.

Segundo Mohamed et al (2017), esta concepção estrutural é antiga, mas vem recebendo inovações em termos de produção de componentes e de técnicas construtivas; sofreu a influência do advento do concreto armado, o qual permitiu maior versatilidade em termos de esbeltez, maiores vãos e adequação de projetos arquitetônicos, contudo, este sistema teve uma retomada no século XX, na Suiça, em decorrência da escassez de concreto e de aço durante a segunda guerra mundial.

Uma questão que pode ser colocada é sobre o desempenho deste sistema. Seja qual for o sistema construtivo, alguns requisitos básicos devem ser atendidos, como a segurança estrutural, a durabilidade e o conforto ambiental, devendo o projetista explorar os recursos técnicos disponíveis para cada solução, e conhecer as imposições que não podem ser ignoradas, tendo as alvenarias um universo particular.

A alvenaria moderna conta com componentes de alvenaria para a construção de paredes portantes, e da argamassa, havendo uma grande responsabilidade para o elemento componente, não se negligenciando também a responsabilidade da argamassa. Além disso, existe o “groute” para complementar a capacidade resistente do sistema criado, e conta-se ainda com uma rede interna de amarração, para a absorção e a redistribuição dos esforços internos.

Do ponto de vista do processo construtivo a alvenaria estrutural tem algumas peculiaridades. Esta é totalmente racionalizada. Por exemplo, têm-se no projeto tanto a previsão do número de fiadas como o número de componentes de cada fiada; assim como, rigorosamente, as posições de portas, de janelas e de vergas.

Funcionalmente, são reconhecidos os blocos maciços (Figura 1a, e Figura 1b), os blocos vazados, apresentados nas Figuras 2a e 2b os blocos e os meio blocos, e na Figura 2c o bloco em corte; os de canaleta (Figuras 3a e 3b) e os de meia canaleta (Figuras 4a e 4b)

Figuras 1a e 1b: Bloco maciço

Figuras 2a, 2b e 2c: Blocos vazados e meio bloco

Figuras 3a e 3b: Bloco canaleta

Figuras 4a e 4b: Bloco meia canaleta

O bloco inteiro pode ser diferenciado em bloco estrutural e em bloco de vedação, conforme a função deste seja estrutural ou de vedação; o meio bloco se destina a finalização de fiadas. O bloco canaleta pode receber o groutes e as armações para o caso de peças complementares, ou de permitir a passagem de instalações prediais. Os blocos do tipo meia canaleta são úteis na construção de elementos estruturais.


Dutos podem ser construídos para a passagens das redes troncos das instalações prediais, ilustrados conforme a Figura 5.

Figura 5: Duto para a passagem de instalação predial

A estrutura dos edifícios é composta pelas paredes estruturais juntamente com os acessórios de reforço, havendo também as paredes não estruturais, de modo que intervenções futuras são restritas.

A Figura 6 apresenta uma ilustração de casos de paredes estruturais e não estruturais dispostas em planta, e a Figura 7 apresenta resumidamente a alvenaria juntamente com elementos de reforço e de distribuição de esforços.

Figura 6: Casos apresentados em planta de paredes estruturais e não estruturais

Figura 7: Blocos e elementos estruturais de reforço e de estabilidade

De acordo com Tauil e Racca (1981), paredes portantes são aquelas que são responsáveis pela absorção dos esforços resultantes do carregamento permanente e acidental, envolvendo cargas verticais e horizontais, como a ação do vento. As paredes não portantes não suportam nenhuma carga além daquelas que são referentes ao seu peso próprio, ou de cobertura, não podendo este valor exceder a 300 kg/ml. Os esforços solicitantes são os advindos das cargas verticais permanentes e acidentais assim como o momento fletor advindos das cargas horizontais de vento, e também resultantes das cargas excêntricas e das rotações de engastes de lajes.

Ainda de acordo com Tauil e Racca (1981), as paredes portantes estão sujeitas às seguintes contingências, com relação à sua esbeltez:

r=h/t


onde “h” representa a altura e “t” representa a largura, conforme ilustra a Figura 8.

Figura 8: Parede e esbeltez



rmax=18 e tmin =20 para blocos vazados;
rmax =20 e tmin =18 para blocos maciços; e
rmax =25 e tmin =15 blocos preenchidos com groute.

Além das paredes ou as suas atribuições, Tauil e Racca (1981) ainda distinguem os seguintes elementos estruturais:
-Pilastras: São porções integradas das paredes projetando-se para um ou ambos os lados da mesma. Como papel estrutural podem atuas como suportes de vigas e como elemento auxiliar de estabilidade das paredes. São como um pilar para a absorção de cargas concentradas. Conforme a configuração e a relação destas com as paredes, as pilastras podem ser do tipo isoladas (Figura 9) ou incorporadas ao painel da alvenaria (Figura 10. Acessórios de reforço são requeridos para manter a coesão do sistema. De acordo com o apresentado em Tauil e Racca (1981), para o caso de pilastras isoladas são necessárias as armações para a amarração dos painéis, e para ambos os casos são requeridos estribos a cada 20 cm.


Figura 9: Pilastra isolada dos painéis


Figura 10: Pilastra incorporada aos painéis


-Colunas: segundo Tauil e Racca (1981) são elementos portantes de cargas verticais que são limitadas a três vezes o valor da largura da parede. Se passar disso vem a ser tratadas como parede.

-Vergas: São vigas especiais em determinados vãos como portas e janelas.

As lajes podem ser do tipo mistas ou laje maciças, sendo estas apoiadas sobre vigas “disfarçadas” construídas a partir de blocos canaletas, groute e armação, conforme ilustra a Figura 11.

Figura 11: Apoio de laje, laje e parede estrutural


A fundação pode ser do tipo fundação rasa. Muitas vezes ela é executada em “radier”, promovendo uma boa distribuição dos esforços, em consonância com o fato de que a geometria dos edifícios, bastante regulares, também auxiliarão neste sentido. Outros tipos de fundações são também executados, como as de sapatas e sapatas corrida, podem ser adotadas, conforme ilustram as Figuras 12a e 12b.

Figura 12a e 12b: Casos de fundação em radier e em sapatas

Os construtores da alvenaria estrutural advogam para o setor algumas vantagens, como: o menor ruído na obra; a obra é limpa; existe a redução do tempo de execução da obra, diminuindo o custo das obras por meio da redução dos custos indiretos e das perdas de material; sendo os dois últimos benefícios decorrentes da racionalização da construção. Ainda, são reclamados pelos construtores da alvenaria, o benefício da diminuição de madeira e de aço na obra.

Quanto aos eventos na obra, considera-se importante que quando o edifício é erguido a obra está sendo concluída; as instalações prediais são embutidas ao longo do avanço na obra. Não se requer o conhecido rasgamento de paredes para a execução desta. 

A Figura 13 ilustra a execução simultânea da alvenaria e dos acessórios.

Figura 13: Execução da alvenaria estrutural e acessórios 
Créditos da foto: Gislaine Bianchi



A Figura 14 ilustra a simplicidade da execução da alvenaria estrutural com relação às formas e escoramentos. 

Figura 14: Simplicidade da obra de alvenaria estrutural 
Créditos da foto: Gislaine Bianchi
A Figura 15 ilustra a fabricação de uma laje maciça, juntamente com a instalação predial.

Figura 15: Execução de laje maciça 
Créditos da foto: Gislaine Bianchi

De acordo com Mohamed et a al (2017), quanto aos benefícios da redução de custos para a alvenaria estrutural, comparativamente à alvenaria convencional, estes diminuem com a diminuição do número de pavimentos, sendo estimado em valores da de 25 a 30% mais econômicos, para os casos de 4 a 6 pavimentos. Os autores observam que, com o número de pavimentos, a infraestrutura de apoio se torna mais complexa.

A Figura 16 apresenta um caso de edifícios de múltiplos andares, em alvenaria estrutural produzidos com blocos de concreto, e a Figura 17 construído a partir de blocos cerâmicos. Observa-se da Figura 17 que existe um complemento da obra realizado com estrutura de concreto, de modo que isto pode influenciar nos custos da obra.

Figura 16: Edifício de grande altura em alvenaria estrutural construído com blocos de concreto 
Créditos da foto: Gislaine Bianchi

Figura 17: Edifício de grande altura em alvenaria estrutural construído com blocos cerâmicos

O tipo de revestimento pode ser simplificado com a aplicação de uma massa fina e regularização, dispensando o chapisco e o emboço.



Bibliografia
MOHAMED, G; ROMAN, H.R; RIZATTI, E; ROMAGNA, R. Alvenaria Estrutural, Materiais de construção civil e princípios de ciência dos materiais. São Paulo, Editor Geraldo Isaia/IBRACON, 2017, p.1069-1110
PRISMA Produtividade elevada e baixo custo, ano 16, no 03, Editora Manadarim, São Paulo, 2017, p.15-17
TAUIL, C.A; RACCA, C.L. Alvenaria armada, São Paulo, 1981, Projeto, 125p.