sexta-feira, 8 de setembro de 2023

ALGUNS ASPECTOS SOBRE A QUÍMICA DOS MATERIAIS QUANDO NA ELABORAÇÃO DE NOVOS PRODUTOS


Marco Antônio de Morais Alcantara


Esta publicação pretende abordar alguns conceitos sobre a química dos materiais, em termos do proporcionamento, dos mecanismos atuantes, dos protagonistas importantes na química dos materiais inorgânicos e sobretudo dos efeitos físicos e físico-químicos resultantes associados aos processos químicos, e das condições de cura e desenvolvimento dos produtos.  

 A importância da otimização com relação à proporção dos materiais

Uma das questões que se coloca é o quanto é benéfico incrementar a porcentagem de determinada substância, em proporção; o quanto é pouco ou é muito. Os materiais se combinam de acordo com proporções bem definidas, tomadas com relação às suas massas. Os valores destas proporções podem variar conforme o tipo de substâncias que estamos lidando, razão pela qual não podemos reproduzir indiscriminadamente uma experiência. Estas proporções em massa podem ser expressas por entes químicos, denominados por “átomo-grama”, “mol”, ou “equivalente-gramas”. As fórmulas químicas são combinações destes valores, multiplicados por coeficientes.

Compreende-se, então, que as reações químicas obedecerão a proporções bem definidas, de modo que, valores que estiverem postos além dos que são requeridos para a combinação se constituirão em excessos, não participarão das reações químicas, e se depositarão na estrutura interna do material, sem cumprir função, e normalmente favorecendo a heterogeneidade, com possíveis consequências no comportamento mecânico ou hídrico.

Poderá influenciar na formação e vazios, induzindo à comportamentos diferenciados, promovendo concentração de tensões, aumento da fragilidade, ou aumento da permeabilidade.

 

Um teor ótimo de uma substância incorporada à outra

Um teor ótimo para uma substância em adição pode ser percebido. Partindo-se de valores reduzidos, um benefício crescente pode ser alcançado com o aumento do teor desse com relação à massa do material de referência, contudo, se por um lado o crescimento da incorporação pôde ser favorável até determinado valor, a parir deste, efeitos colaterais podem afetar o material, tornando agora decrescentes os resultados. Alcançou-se então o teor ótimo do material. Certamente este teor ótimo pode depender das condições particulares de reatividade, e anda de contingências físicas ou físico-química promovida pelas condições da experiência, como se verá adiante.

 

Mecanismos particulares de atuação

Mecanismo de atuação são importantes para o cumprimento das funções químicas dos materiais. Por exemplo, o mecanismo de atuação para o caso da cal é o da recarbonatação, quando o hidróxido de cálcio presente na argamassa se combina com o gás carbônico da atmosfera, formando o carbonato de cálcio, conforme ele era antes da queima; já para o caso do gesso, é o da rehidratação, quando o sulfato de cálcio anidro se combina com a água para formar o sulfato de cálcio hidratado como ele era antes da queima.

No caso do cimento Portland, este tem como principal mecanismo a hidratação dos silicatos dicálcicos e tricálcicos, e a hidratação dos aluminatos de cálcio, sendo que dos silicatos hidratados permitem alcançar o ganho de resistência mecânica, enquanto que os aluminatos são os principais fornecedores do calor de hidratação para o desenvolvimento das reações. 

Os produtos formados apresentam peculiaridades em termos de composição química estruturas químicas, podendo os estados de agregação, entrelaçamentos, e colagem sofrer influências das condições de formação.

Um aglomerante pode conter impurezas, o que seria por exemplo a presença da cal virgem em cimento Portland, a qual pode contribuir para o aumento do calor de hidratação pela sua extinção, podendo tornar este calor de hidratação excessivo. Também, as reações de hidratação dos componentes do Portland, em particular os silicatos de cálcio, tem com subprodutos finais de hidratação a cal hidratada. Da cal hidratada produzida pela extinção da cal virgem e da liberação das reações de hidratação dos componentes do Portland se obtém a possível formação de carbonatos de cálcio, sujeitos à dissolução pela ação da água, à longo prazo.

Do efeito desfavorável da presença da cal hidratada no cimento Portland, recorre-se então ao uso de substâncias que gozem de “atividade pozolânica”, a qual consiste na capacidade de fixa a cal hidratada com a formação de compostos cimentantes, mesmo quando submersos, e que apresentem resistência à ação de dissolução da água, à longo prazo. Desta forma, a cal hidratada não ficará livre, e se previne quanto à possível dissolução dos carbonatos que seriam formados, e que conduziriam ao aumento da porosidade e da permeabilidade do concreto.

Além de pozolanas, outras substâncias podem ser aliadas na mitigação com relação ao efeito da presença da cal, são as escórias de alto forno. Estas podem ter o comportamento hidráulico despertado pelo ambiente alcalino, sendo isto denominado de “ativação alcalina”.

 

A química e a física dos materiais

Cabe considerar que associados aos processos químicos existem os fenômenos físicos e físico-químicos que acompanham os materiais; por exemplo, a dispersão ou a floculação das partículas. Isto pode acontecer nos processos de tecnologia do concreto, ou da estabilização química de solos. No caso dos concretos existem os aditivos superplastificantes, que atuam por ação estérica e eletrostática, e no caso da estabilização de solos pela interferência na “dupla camada difusa”, presente em torno das partículas carregadas.

Dentro do campo da estabilização de solos pode-se distinguir dois casos que podem ser considerados como referência: o de estabilização de solos com cimento e o de estabilização de solos com cal. Para o caso do solo-cimento o processo se desenvolve mediante as reações de hidratação do cimento nos interior dos vazios do solo, proporcionando a formação de uma matriz cimentante que aglomera as partículas do solo; já para o caso do solo-cal o processo se dá de modo diferenciado no interior do solo compactado, pois, o processo de recarbonatação é inviabilizado neste caso, em face das dificuldades de acesso do gás carbônico no interior dos vazios do solo, e na verdade existe um processo mais nobre para a estabilização, que são as reações pozolânicas que ocorre entre a cal e os elementos solubilizados do solo.

Em termos de estabilização e solos, como visto, os aditivos põem reagir com as substâncias minerais, de maneira que diferentes tipos de aditivos poderão apresentar diferentes desempenho frente à diferentes tipos e solos. No caso da estabilização de solos com cal as reações pozolânicas são realizadas mediante a presença de íons de cálcio no solo; já para os casos de estabilização de solos por ativação alcalina, como nos casos do hidróxido de sódio e do hidróxido de potássio, as reações se dão mediante a presença de alumínio e sódio e potássio, constituindo-se em um outro domínio de estabilização. 

 

As condições de energia e condições de cura

Os materiais requerem energia para que possam ter lugar os processos químicos desejados, da mesma forma que eles podem liberar energia. Esta energia liberada pode ser a necessária para a sustentação do processo, ou pode ser excessiva, conduzindo a efeitos indesejáveis, tais como a aceleração da evaporação e da retração não bem conduzida.

A termodinâmica química pode dar um indicativo de que determinada reação química poderá ocorrer, com base no valor total da entalpia dos produtos finais e dos reagentes, de modo que se diminua a energia livre do sistema, mas não diz o tempo em que elas deverão ocorrer.

Em decorrências, determinadas reações químicas poderão ocorrer de imediato, ou levarão um tempo maior para que elas ocorram. Muitas vezes se recorre à banhos térmicos para que o processo possa ser acelerado.

O tempo de cura é então importante para os processos químicos.

A cura pode ser influenciada pela temperatura, e pela presença de substâncias catalizadoras. Um teor ótimo de um aditivo em mistura poderá variar, quando considerado o tempo de cura. Quanto maior for o tempo de cura, maior poderá ser o teor ótimo do aditivo, sujeito à um valor máximo limitante. Isto em decorrência da maior quantidade de reações de cimentação, favorecidas pela difusão interna de substâncias ativas.  

Com o decorrer do tempo de cura se pode ter então o material no estado final para a determinada idade de cura, e com as propriedades adquiridas com base no grau de cimentação e estruturação interna.