Materiais alternativos
Marco Antônio de Morais Alcantara
No entanto, do outro lado do
laboratório, saindo de uma situação intramuros, encontramos alguns personagens,
atores, que fazem parte da possível cadeia produtiva para o novo material.
Em primeiro lugar, o consumidor. A quem servirá este novo tipo de produto, desenvolvido de modo tão acurado? Quem faz parte da população alvo, a qual vai utilizar o novo produto?
Durante muito tempo, se concebeu a ideia de se produzir “materiais de construção para os mais necessitados”, todavia, alguns protocolos limitaram a acessibilidade destes materiais a esta população; ou eles não tiveram o interesse por diversas razões: seja por que os custos dos materiais ainda não eram acessíveis, ou competitivos com relação aos dos materiais tradicionais; seja também porque estes são concebidos de modo a serem auto produzidos os componentes, aumentando-se a carga de trabalho, ou de se auto construir refletindo em aspectos negativos de ergonomia, ausência de cooperativismo, ou mesmo de tempo a mais para se disponibilizar na auto produção, além do tempo dispendido para se alcançar os meios para a sobrevivência. Ainda, no caso de auto- produção ou de autoconstrução, existe a necessidade de orientação técnica, de modo a se implementar os programas, de habitação.
Em primeiro lugar, o consumidor. A quem servirá este novo tipo de produto, desenvolvido de modo tão acurado? Quem faz parte da população alvo, a qual vai utilizar o novo produto?
Durante muito tempo, se concebeu a ideia de se produzir “materiais de construção para os mais necessitados”, todavia, alguns protocolos limitaram a acessibilidade destes materiais a esta população; ou eles não tiveram o interesse por diversas razões: seja por que os custos dos materiais ainda não eram acessíveis, ou competitivos com relação aos dos materiais tradicionais; seja também porque estes são concebidos de modo a serem auto produzidos os componentes, aumentando-se a carga de trabalho, ou de se auto construir refletindo em aspectos negativos de ergonomia, ausência de cooperativismo, ou mesmo de tempo a mais para se disponibilizar na auto produção, além do tempo dispendido para se alcançar os meios para a sobrevivência. Ainda, no caso de auto- produção ou de autoconstrução, existe a necessidade de orientação técnica, de modo a se implementar os programas, de habitação.
O conceito errôneo de material de
baixo custo, ou de “simples de ser fabricado”, tem limitado a disseminação de
alguns materiais, como por exemplo o solo-cimento, para a habitação popular.
Considerando os tipos de matéria prima local, o solo, e o teor de cimento
requerido, os custos vêm a se viabilizar somente mediante o interesse específico
pelo material. Deste modo, não é incomum ver projetos para a classe média sendo
implementados com tijolos de solo-cimento, enquanto que o auto construtor na
maioria das vezes utiliza de blocos cerâmicos. Os custos de uma construção não
dependem apenas dos que são relativos à produção dos materiais, mas aos que são relativos aos outros fatores, como os administrativos e da mão de obra. Muitas
vezes a diminuição de custos pode ser o resultado global, e não o específico, citado como relativo
aos custos dos materiais.
Um outro aspecto da questão da
disseminação de um produto é o mercado. Este tem procurado diversificar os seus
produtos oferecidos, com base em um suporte tecnológico bastante sofisticado, e
com a exigência de atendimento à normas específicas, que regulamentam cada
setor. O mercado é fundamentado com base
no consenso da maioria das pessoas para aprovar ou para confiar em determinados
produtos. Os componentes são aprovados tanto pelos institutos que regulam a
qualidade e normatizam os produtos específicos, como pela população. Neste
sentido, o que é convencional foi alternativo um dia para que se tornasse
tradicional. E é este mesmo título, de “alternativo”, que induz o consumidor a
desconfiança, até que o produto seja reconhecido com seguro. Se existe o
“alternativo” é porque ele é uma opção com relação ao que é tradicional, e isso
é um combustível a mais para a resistência do conservador.
As experiências bem sucedidas
seriam aquelas que se realizassem em parceria com as pessoas que iriam adotar a
solução.
Dentro de um conceito de
igualdade para todos, os materiais de construção devem ser reconhecidos pelo
atendimento aos requisitos de desempenho. Estes são invariáveis em termos de
consumidor e dependem dos fatores comuns a todos como a segurança estrutural, o
conforto ambiental, promovendo a satisfação do usuário. Neste sentido, o
próprio mercado através da competitividade tem conseguido tornar acessível
grande parte dos componentes básicos para a construção.
Além dos fatores já citados, os
materiais alternativos estão hoje condicionados às disponibilidades de matéria
prima, a presença de uma tradição construtiva, quando se distancia do padrão tradicional
de execução, à formação técnica dos disseminadores, e dos aspectos de
sustentabilidades. Este último fator tem limitado ou incentivado as
experiências particulares de inovação. Recentemente a sociedade tem se tornado
uma aliada no sentido de se acatar as inovações, diante de um grande número de
opções, no sentido de valorizar materiais antes descartados, e que cumprem um
papel relevante como material. É o caso por exemplo dos resíduos, que podem
atuar como pozolanas e melhorar a qualidade de misturas cimentícias, ou de
resíduos de demolição, que podem substituir agregados naturais, poupando o meio
ambiente de maiores intervenções. Neste sentido, o conhecimento científico tem
sido um grande aliado para que as experiências possam ser realizadas com critérios,
e exploradas em suas potencialidades.
Sobre o autor:
Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.
Marco Antônio de Morais Alcantara é Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de São Carlos-BR, com ênfase em Engenharia Urbana (1986); Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Geotecnia, pela Universidade Federal de Viçosa-BR (1995); Master Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2001); Docteur Génie Civil, Matériaux et Structures, pelo Institut National des Sciences Appliquées de Toulouse-FR (2004); e tem pós-doutorado em Estruturas pela Universidade do Porto-PT (2012). É docente da FEIS/UNESP desde 1987.