terça-feira, 20 de outubro de 2020

CONCRETO PROJETADO: APLICAÇÃO EM OBRAS DE INFRAESTRUTURA


Marco Antônio de Morais Alcantara

O concreto projetado, ou também no caso de argamassa, se dá pela aplicação de um jato de concreto ou de argamassa sobre um substrato, na forma de spray, com auxílio de um equipamento pressurizado. Com a superposição do material aplicado, se permite a execução de uma camada de até 100 mm de espessura, em média, formando um material estrutural.  O concreto é adensado sob o efeito do próprio jato da projeção. As peculiaridades e contingências deste tipo de concreto são discutidas nesta apresentação.

Paralelamente ao processo de projeção, ocorre também um efeito de reflexão, em especial das partículas maiores, de modo que, o concreto que é aplicado como camada ao substrato não corresponde exatamente ao que foi misturado; e nisto consiste de parte do controle do concreto projetado.

A sua concepção deve ser de modo que a sua aderência e a sua ancoragem ao substrato seja eficiente desde os primeiros instantes, de modo que, este não escoe ou se “desplaque”, e que o material permaneça, mesmo em uma parede ou teto.

Como contexto de aplicação e de utilização do concreto projetado, têm-se as paredes e tetos de escavações, revestimentos de túneis, seções esbeltas com pouca taxa de armadura, reservatórios protendidos, e taludes de rodovias, havendo algumas imposições construtivas, tais como a baixa taxa de armadura. 

Os tipos de aplicação podem se dar por “via seca” ou por “via úmida”. Quando é efetuado por via seca, a mistura é realizada em uma câmara do equipamento, a partir dos materiais secos, e é conduzida através de pressurização à um mangote de aplicação, e a água é incorporada na saída do acessório, ou bico de projeção. Já na via úmida, a mistura é realizada de modo completo desde o misturador, seguindo para a pressurização e aplicação.

A literatura registra o uso maior para a via seca. Como possíveis vantagens desse tipo de aplicação, têm-se a melhor condição para os casos de agregados leves e porosos, utilização de aditivos aceleradores de pega instantânea, lançamento à maiores distâncias e a operação intermitente. Já a via úmida permite o melhor controle sobre a mistura, em especial sobre a quantidade de água, e ainda, a menor produção de pó e menor reflexão.

O concreto projetado tem custo mais elevado do que o dos concretos convencionais, em razão dos seguintes fatores: maior consumo de cimento para se alcançar as propriedades desejadas, uso de equipamentos e de mão de obra mais especializada. Cabe ressaltar que o sucesso do concreto projetado depende grandemente do operador, ou, o “mangoteiro”, dentro da sua percepção e de sistemática de operação.

 

A reologia do material no estado fresco

A reologia destes materiais assume algumas particularidades, quando se considera os seguintes contextos, ou momentos: o de quando na aplicação, e o do pós-aplicação.

Na aplicação deve haver um regime análogo ao dos concretos bombeados, com baixa dissipação de energia pelo atrito interno do tubo, e quando aplicado, este deve ser capaz de absorver as pressões decorrentes da projeção de novas camadas. Durante a aplicação, a tensão de cisalhamento e a tensão de escoamento devem ser coerentes de modo que se produza o fluxo e o spray. As condições devem ser também de um concreto em regime "Pseudoplástico". Após a aplicação, este concreto deve possuir tensão de escoamento coerente para a sua sustentação no substrato, e ainda, apresentar viscosidade aparente coerente para poder suportar a taxa de cisalhamento provocada pela aplicação de novas camadas, e ainda se manter coesa (ROMANO, 2011)

 

O contexto de trabalho do material endurecido

O concreto projetado é resistente e durável como o concreto convencional, podendo alcançar valores da ordem de 50 kN.

Os concretos projetados têm o seu desempenho em ambientes sujeitos à umidade, devendo então ter a absorção limitada. Dentre os riscos ao longo prazo estão os de explosão quando no caso de incêndios.

O material está em contato permanente com o solo, sujeito então ao possível contato com elementos nocivos como os sulfatos, além da exposição à umidade; ele também se constitui em um arcabouço de sustentação do ponto de vista de estabilidade da escavação. Por se tratar de elementos de sustentação das escavações, eles requerem o ganho de resistência acelerado à curto prazo. 

Pode-se tomar em consideração o tipo de cimento adotado do ponto de vista da resistência ao ataque químico; a espessura da placa e a sua resistência mecânica e, sobretudo, a dinâmica do ganho de resistência mecânica do concreto justo nas primeiras horas após a aplicação.

Também, este material está sujeito à esforços devido a acomodação e interação com o meio, razão pelas quais este material requer ductilidade.

Devido ao fenômeno de reflexão, como apresentado no início, a composição do concreto se torna mais rica em agregados finos, de modo que se atente para a tendência deste material à reflexão.

 

Materiais constituintes do concreto projetado

Os materiais constituintes dos concretos projetáveis são compatíveis com as suas exigências de desempenho. Para o cimento, pode a princípio, ser utilizado mesmo o cimento comum, mas, diante de possíveis exposições à elementos nocivos como os sulfatos, recomenda-se que este seja dotado de boa resistência química; o agregado graúdo, com diâmetro limitado, por razões de viabilidade técnica da aplicação; o agregado miúdo preferencialmente o agregado natural; como aditivos, se pode utilizar aditivos redutores de água, de modo a poder diminuir a quantidade de água necessária para se alcançar as condições de fluidez, e os aditivos aceleradores de pega, para acelerar o ganho de resistência mecânica.

Ainda, pode-se fazer referência aos aditivos impermeabilizantes cristalizantes, e as fibras, com o intuito de resguardar o material da umidade, comum em ambientes de escavações, e, para o caso das fibras, de dotar o material de melhor ductilidade.

O aditivo acelerador de pega costuma ser utilizado e tem por função a de acelerar o ganho de resistência mecânica e de garantir a resistência do concreto nas primeiras idades, sendo isto uma contingência para este tipo de concreto dentro do contexto estrutural.

 

Controle tecnológico do concreto projetado

Esta é uma particularidade do concreto projetado. Este tem por finalidade orientar os estudos de dosagens, e de acompanhar o ganho de resistência nas primeiras idades, e a sua evolução. A seguir se apresenta os procedimentos que norteiam os estudos de dosagem.

 

Ensaios de consistência e de penetração para estudos de dosagem

O ensaio de consistência é realizado com as seguintes finalidades: orientar os estudos de dosagem dos concretos, em especial quanto à quantidade de água incorporada, e de monitorar a variação da consistência da mistura, devido à presença do aditivo. Embora a variação da consistência seja decorrente de um processo químico, a avaliação da consistência é realizada através de um processo físico, pela da medida da resistência à penetração de um pistão no interior da pasta.

O ensaio apresentado conforme Prudêncio Jr. (2011) é realizado em placas moldadas para esse fim, e requer os seguintes protocolos: que o procedimento seja realizado em pontos distanciados de 10 cm; a profundidade deve atingir à 2,5 cm (monitorada por indicador colocado na haste da agulha). A velocidade da penetração deve ser constante, concomitantemente com que a agulha penetre no concreto em aproximadamente 1s.

Os critérios de julgamento deste ensaio estão com base no valor médio da tensão; conforme o autor, para os casos de concretos não aditivados, os valores de 3 a 4 MPa indicam uma boa proporção de água na mistura. Para o caso de concretos aditivados, ganha-se importância a tensão de penetração medida ao longo do tempo, onde, estas variações podem ser um indicativo de início de pega. Pode-se dar, inclusive, um enrijecimento instantâneo.  Neste caso, admite-se o autor de que a pega foi instantânea e então se deve monitorar a evolução de resistências iniciais.

 

Ensaios de resistência à compressão

Quando se fala no controle tecnológico sobre a resistência do concreto projetado, alguns aspectos devem ser são tomados em consideração, quanto à extração de testemunhos para os ensaios de resistência à compressão: a condição do concreto pode variar de uma região para outra, assim como, a espessura da camada de concreto.

O controle de qualidade da resistência mecânica do concreto projetado é realizado de modo indireto, seja, através da extração de testemunhos de uma placa produzida, em que as características sejam próximas das que são aplicadas na obra; utilizando-se da mesma dosagem, dos mesmos materiais e até mesmo feita com os mesmos operadores.

Estas são respaldadas em estudos que são tomados com base na correlação existente entre a resistência mecânica dos concretos e os resultados físicos de ensaios realizados, com base em penetração ou cravação de pinos em placas, produzidas como dito no parágrafo anterior. Por exemplo, diante à penetração com uma energia pré-fixada. Estes ensaios devem ser aplicados e repetidos para diferentes pontos.  

Este é o ensaio do penetrômetro, apresentado conforme Prudêncio Jr.(2011). O valor da penetração é dado em 15 mm, e o valor das resistências pode ser da ordem de 0,2 a 1 MPa. O ensaio deve ser realizado com a penetração de pelo menos 10 pontos, distanciados de pelo menos 4 cm. As penetrações devem ser feitas em aproximadamente 1s.

As avaliações da resistência são feitas da ordem de 20 a 30 minutos. Observa o autor que, tanto os dois maiores valores como os dois menores valores podem ser desprezados para o cálculo da média de tensões, pois estes podem representar as possíveis influências das presenças de bolhas ou de grãos graúdos junto à superfície.

 

Bibliografia

NEVILLE. A.M; BROOKS, J.J Tecnologia do concreto. Porto Alegre, 2013, Bookman, 448p.

NEVILLE. A.M Propriedades do concreto. Porto Alegre, 2016, Bookman, 888p.

PRUDÊNCIO JR, L.R. Concreto projetado. In CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2, São Paulo, 2011, IBRACON, p.1368-1397 

ROMANO, R.C.O; CARDOSO, F.A; PILEGGI, R.G. Propriedades do concreto no estado fresco. In: CONCRETO: CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 1, São Paulo, 2011, IBRACON, p.453-500