sábado, 27 de janeiro de 2018

ALGUNS ASPECTOS TECNOLÓGICOS DA PRODUÇÃO DO CONCRETO VIBRADO

Créditos foto: Willian S. Cruz

Reologia do concreto fresco

Marco Antônio de Morais Alcantara

A produção do concreto envolve as fases de mistura, transporte, lançamento, adensamento e cura. Cada uma delas apresenta uma peculiaridade. Serão discutidas cada uma delas a partir então dos seus aspectos mais relevantes.

Mistura

A mistura do concreto está relacionada com a dimensão da obra, e o volume de concreto a ser produzido. Outros aspectos indiretamente relacionados, como o tamanho do canteiro, podem também influenciar tanto no estabelecimento do lay-out como na definição dos tipos de equipamento a serem utilizados na fase de mistura.

Do concreto a ser produzido se requer a homogeneidade, de modo que cada parte de uma amassada tenha as mesmas características. A falta de homogeneidade do concreto pode implicar em regiões de fraqueza, e na falta de isotropia nas propriedades do material.

Os misturadores podem ser diferenciados pelo tipo de ação que eles impõem aos componentes da mistura, pelas suas capacidades, e indiretamente pelo ciclo de produção e cadencia da obra, e ainda, pela eficiência na produção de um concreto mais ou menos homogêneo.  Estes são diferenciados como “intermitentes” ou “contínuos”, ou também, “de queda livre” ou “forçados”. Os primeiros citados podem ter a produção interrompida, enquanto que os segundos não necessitam de interromper a produção que é requerida para uma etapa da obra.

A ação sobre os materiais se dá por meio de pás que podem revolver o material sobre si mesmo, e a ação da gravidade. Os de queda livre contém as pás solidárias à cuba conforme a Figura 1, enquanto que os forçados podem ter a cuba fixa e as pás móveis, conforme a Figura 2havendo ainda a variante onde a cuba gira em sentido contracorrente.

Figura 1: Misturador “de queda livre”

Figura 2: Misturador tipo “forçado”

O eixo da cuba pode se encontrar conforme as seguintes condições: inclinado ou horizontal.  Isto pode implicar em diferentes condições de eficiência.

A Tabela 1 apresenta os misturadores resumidos dentro de uma classificação conforme Petrucci (1978).

Tabela 1: Classificação quanto aos tipos de misturadores
Misturadores
Intermitentes
Queda livre
Eixo inclinado
Eixo horizontal
Forçados
Cuba fixa
Contracorrente
Contínuos
Queda livre

Forçados


Para o processo importa não o tempo, mas o número de revoluções. De modo geral a velocidade de rotação é dada por 20 rpm.

Os misturadores intermitentes são utilizados em obras de pequeno porte, onde a mistura é produzida próxima ao lugar de lançamento. Os de eixo inclinado, basculantes, tem o abastecimento dos materiais coincidente com o de entrada. O carregamento pode ser realizado tomando-se os materiais em peso, em volume, ou em traço misto, considerando o cimento em peso e os agregados em volume. 

Uma variação deste último é o traço com base no saco de cimento e os agregados em volume.

A ordem de colocação dos materiais e os protocolos de operação são dados por:
-Parte dos agregados graúdos e parte da água, seguindo-se de um ciclo de revolução.
- O cimento juntamente com o restante da água e o agregado miúdo; seguindo-se de um ciclo de revolução.
- O restante do agregado graúdo (seguindo-se de um ciclo de revolução).

As capacidades dos misturadores intermitentes podem ser compreendidas com base no volume da cuba, chamada de “capacidade da cuba”; no volume dos insumos do concreto antes da mistura, a “capacidade de mistura”, e no volume de concreto efetivamente produzido, a “capacidade de produção”.   Desta forma, do volume total de concreto a ser produzido, pode-se estimar o número de ciclos de mistura que serão necessários. Para os casos de misturadores de eixo inclinado a capacidade de mistura com relação a capacidade da cuba varia entre 0,6 a 0,75 enquanto que para os casos de eixo horizontal varia de 0,35 a 0,40. A capacidade de produção em geral varia entre 0,5 a 0,8.

Os misturadores contínuos apresentam uma produção ininterrupta, capaz de fornecer grandes quantidades de concreto. De modo geral consistem em cilindros dotados de pás ou hélice, que forçam a mistura dos constituintes do concreto durante a passagem. Os constituintes entram por um acesso enquanto que a descarga é realizada pelo outro acesso. A inserção de materiais é realizada com base no volume dos insumos.

Eles apresentam como vantagens, além da grande capacidade de concreto produzido e a não interrupção da produção, a melhor homogeneidade deste. Como desvantagem têm-se a própria dificuldade operacional de interromper a produção, e da dependência de um controle rígido para com a qualidade e a condição particular dos agregados, como o diâmetro máximo e os insumos (fato que também é importante para os outros tipos de misturadores.

Ainda, um outro tipo de misturador é considerado quando o concreto é produzido em usina. Este contexto é dado quando o volume de concreto justifica tal procedimento, e tem como vantagens a qualidade do concreto, assim como a diminuição de ruído e as operações na obra.

Este tipo de operação pode ter três variantes: (i) o concreto é produzido em misturadores na central, e transportado para a obra, ou, (ii) o concreto é inicialmente produzido na central, e é finalizado em caminhão betoneira; e por último, (iii) o caso em que o concreto é produzido totalmente em caminhão betoneira.

Os principais acessórios para esse tipo de indústria são: silos de armazenamento para os insumos, misturadores, equipamento de transporte para que os insumos tenham acesso aos misturadores, e o caminhão betoneira. Os materiais são tomados normalmente em peso, favorecendo a melhor qualidade do concreto.

Durante o transporte por caminhão o concreto deve conservar a sua homogeneidade, de modo que este é sujeito à mistura com revoluções compatíveis a somente manter a sua homogeneidade (diferente daquela que é utilizada na produção de concreto) dada por valores entre 2 a 6 rpm.

As contrapartidas de responsabilidade entre o cliente e o fornecedor são dadas dentro das seguintes situações: (i) o cliente é responsável pelas condições da mistura, fornecendo características dos materiais, a proporção, o tipo e diâmetro máximo de agregados, o uso de aditivos entre outros; (ii) o fabricante se responsabiliza pela seleção de materiais e o traço, devendo então o cliente, fornecer a resistência desejada conforme a idade, e a consistência; (iii) o terceiro caso é o de o cliente solicitar a produção dentro de um consumo mínimo de cimento.

Os ensaios de validação no recebimento são os ensaios de consistência do abatimento. São ainda realizados os ensaios mecânicos de ruptura de compressão de corpos de prova no estado endurecido para fins do controlo tecnológico.

O transporte

O transporte se constitui em uma outra fase onde se deve preocupar com as suas implicações na homogeneidade do concreto. São importantes as distancias e as direções do deslocamento, assim como os seus meios e as suas ações.

Quanto à direção são horizontais os casos dados por carrinhos de mão e vagonetas; verticais os casos de caçambas, e oblíquos os casos de calhas e esteiras transportadoras.

Também existem meios intermitentes e contínuos para com o transporte, sendo intermitentes os representados por carrinhos de mão, vagonetas e caçambas, e contínuos os representados por calhas e esteiras transportadoras. Existe ainda o caso do bombeamento do concreto.

As contingencias a que estão sujeitas o concreto na fase de transporte podem ser por exemplo a vibração, no caso do transporte por carrinhos, o atrito, no caso de transporte por calhas. O atrito também pode estar presente nos casos de bombeamento. Tudo isto deve ser visto cuidadosamente de modo a não haver separação de fase do concreto.

Algumas compatibilidades são requeridas, como por exemplo, para o caso do concreto conduzido por calhas este deve ser fluido, e a calha deve ser lisa, enquanto que para o caso do concreto conduzido por esteiras este deve ser preferencialmente seco; ainda, o concreto bombeado dever ser plástico. O diâmetro da tubulação deve ser no mínimo três vezes maior do que o valor do diâmetro máximo do agregado. A altura máxima para o bombeamento é limitada a 30 metros. Deve se considerar as perdas de carga em função do comprimento da tubulação e das curvas.

O lançamento

O lançamento constitui-se em uma fase relevante na produção do concreto, sobretudo pelo tempo decorrido após a mistura, e pelas ações envolvidas neste processo. Na ausência de retardadores de pega, o tempo de lançamento é de no máximo 1 hora após a mistura, não se admitindo re-misturas.

Alguns aspectos são importantes como as alturas do lançamento.

A altura deve ser limitada a no máximo 2 metros, e, em havendo a necessidade, para os casos de pilares por exemplo, deve se usar de aberturas nas formas, sucessivamente, de modo a se respeitar esta altura.  

A mobilidade após o lançamento. Para os casos de concretos vibrados a mobilidade é preocupante, visto poder ocorrer a separação de fases. O concreto não pode se movimentar muito além do local de lançamento.  

O adensamento do concreto

O adensamento do concreto tem por finalidade promover a sua maior compacidade admissível, promover a acomodação dos grãos, reduzir os vazios, expulsar o ar. Este pode ser realizado por meios diversos como o apiloamento, vibração, ou concretagem à vácuo. Isto vai depender da consistência do concreto e da sofisticação do processo.

Os casos mais corriqueiros são realizados por meio de vibração. Esta pode estar associada com a condição do material, havendo a vibração desde por imersão de uma barra de ferro cilíndrica na massa de concreto como por auxílio de vibradores de imersão. O caso da barra de ferro cilíndrica é limitado aos casos dos concretos plásticos, que requerem baixa energia, e os casos de vibração de imersão para os casos de concretos menos plásticos.

A vibração tende a reduzir o atrito interno do concreto de modo que este role sobre si mesmo. A viscosidade do concreto é reduzida, de modo que o excesso do tempo pode implicar na segregação do concreto, com a descida do agregado.

A frequência de vibração pode ser baixa (1500 vib/min), média (3000 a 6000vib/min) e alta (6000 a 20000 vib/min). Os materiais mais pesados como os agregados graúdos são mais sensíveis à baixas frequências, enquanto que os materiais mais leves, como os agregados miúdo são sensíveis às frequências maiores. Desta forma, a fase argamassa é mais sensível às frequências médias e altas.

Para os casos de concretos pré-moldados estes são vibrados com o auxílio de mesas vibratórias.

Existem casos de concretos que são dispensados de vibração, como são os casos dos concretos autoadensáveis, que adensam sob a ação do seu peso próprio, e os concretos autonivelantes.

A cura


A cura é compreendida de modo geral como um conjunto de medidas com finalidades de se evitar a evaporação prematura da água de hidratação do concreto. Os principais meios de cura conhecidos são: a irrigação periódica da superfície; recobrimento da superfície, com auxílio por exemplo de areia ou sacos de aniagem rompidos; uso de produtos impermeabilizantes de cura; aplicação de papéis impermeáveis; aplicação de sais que retém a umidade, como o cloreto de cálcio.

Bibliografia de apoio

AZEREDO, H.A O edifício até sua cobertura. São Paulo, 1997, Edgar Blücher ltda, 182p.
PETRUCCI, E.G.R Concreto de cimento Portland, Porto Alegre, 1978, Globo, 307p.