segunda-feira, 30 de março de 2020

ALGUNS ASPECTOS DA DOSAGEM E DA TECNOLOGIA DOS CONCRETOS COM PIGMENTOS



Marco Antônio de Morais Alcantara

O concreto pigmentado tem sido utilizado há muitos anos, em especial quando se quer tirar partido da arquitetura. Acabamentos de cor podem ser explorados, em tons diversos, que podem ser mantidas mesmo após décadas de uso. O concreto com pigmentos pode ser explorado também na indústria de artefatos de concretos, em especial para os casos de fabricação de pisos de concreto intertravado, pisos coloridos, telhas de concreto ou de fibrocimento, blocos de concreto, blocos de solo-cimento, painéis de revestimento pré-moldado, elementos vazados. Ainda, podem ser utilizados em argamassas de rejuntamento, de assentamento, de revestimento e projetada.


Em acordo com AECweb (2020) o concreto com pigmentos não implica na perda da robustez e nas demais propriedades requeridas para o material, e este pode ser adotado em soluções de acabamento, em concorrência com o uso de tintas ou pastilhas. Ainda, os pavimentos de concretos podem ser beneficiados com o uso de concreto colorido, explorando-se por exemplo em sinalização.

O concreto colorido pode ser produzido em central, no canteiro, assim como em indústria de pré-moldados, requerendo-se como cuidados a constância na cor em termos de sua tonalidade, visto ser a cor um tema a ser explorado.

As precauções principais para a fabricação de concretos coloridos são de ordem geral definidas por:

-Escolha do tipo de cimento;
-escolha do pigmento;
-escolha dos agregados;
-dosagem do concreto;
-preparação do concreto;
-durabilidade do concreto.

As primeiras três precauções são decorrentes do gerenciamento do efeito da cor, visto que, podem interferir una nos outros os efeitos individuais. A dosagem e a preparação implicam em se manter a homogeneidade da mistura, de modo a não haver alterações locais, e a repetibilidade do efeito da cor a cada betonada. Recomenda-se em manter os mesmos tipos de cimento e de fabricante (assim como os demais materiais) ao longo da produção de concreto.

É evidente que os concretos com pigmentos devem atender também aos requisitos genéricos que são atribuídos ao concreto, tais como a resistência mecânica e a durabilidade. De acordo com Hartmann e Benini (2011), os pigmentos cumprem o papel de fíler na mistura. Desta forma eles estão sujeitos á tolerâncias quanto à relação pigmento/cimento, visto que eles podem influenciar nas propriedades reológicas do concreto, e deve-se considerar que destas podem ser afetadas as propriedades do material no estado endurecido.

Deve-se considerar que a cor é um requisito de desempenho, o qual deve ser atendido na obra, assim como os demais requisitos básicos.

O efeito da cor depende sobretudo de:

-Teor de pigmentos;
-tipo de cimento adotado;
-tipo de agregado.

Quanto ao teor de pigmentos, o efeito da cor e a tonalidade pode ser influenciada pelo valor crescente deste. O tipo de cimento também é fundamental. Cimento branco ou cimento comum, o cimento “cinza”, podem trazer diferentes efeitos com relação ao poder de cobertura do pigmento; o cimento branco permitirá um melhor ajuste de cores com um menor teor de pigmentos, enquanto que o cimento cinza poderá requerer mais pigmentos. O cimento cinza, comum, tende a “escurecer” o concreto.

O agregado apresenta uma influência indireta sobre o concreto, devendo este apresentar cor em uma tonalidade mais próxima á do pigmento.

O efeito do teor de pigmentos sobre as condições de trabalhabilidade do concreto deve ser considerado, visto que uma quantidade excessiva poderá requerer o aumento da quantidade de água requerida para o amassamento, e desta forma ocorrendo o aumento da relação água/cimento, enfraquecendo então o concreto. De acordo com Hartmann e Benini (2011), o teor de 6% de pigmentos com relação ao cimento não promoverá alterações significativas nas condições de trabalhabilidade do concreto, fixando um limite tolerável de até 10%. Em média, segundo nos autores, são recomendados 3 a 5% de pigmento com relação à massa de cimento. 

Quanto à recomendação de um teor de pigmentos, cabe ainda considerar que o aumento da relação água/cimento influenciará de modo inverso também na atuação dos pigmentos, razão pela qual o teor de pigmentos deve apresentar um “ponto ótimo”.

A Tabela 1 apresenta uma recomendação para com o uso dos pigmentos conforme as condições desejadas, para cada 100 kg de cimento:

Tabela 1: Recomendação para com o uso dos pigmentos conforme as condições desejadas, para cada 100 kg de cimento
Principais pigmentos inorgânicos
Tonalidade desejada
Quantidade de pigmento
Concreto de cores pálidas, tons pastéis quando utilizado o cimento branco
1 a 2 kg
Tons médios
3 a 5 kg
Tons escuros
6 a 8 kg
Fonte: Hartmann e Benini (2011)


Os pigmentos podem ser de origem mineral, inorgânica, e ser utilizados da forma granulada ou na forma de uma pasta, composta por água e o pigmento. Algumas recomendações operacionais são apresentadas, de modo a poder garantir a melhor dispersão e homogeneidade. Hartmann e Benini (2011), segundo recomendação de fabricante, sugerem o seguinte procedimento de colocação de materiais quando na fabricação de concretos:

-Pré-mistura a seco do pigmento e os agregados;
-adição de cimento, seguida de nova mistura;
-adição de água e mistura úmida.

Quanto aos casos da utilização de pasta pigmentada, é recomendado que a colocação dos materiais seja feita na seguinte ordem:

-Colocação dos agregados;
-colocação do cimento;
-adição de 50% da água;
-adição dos pigmentos juntamente com os aditivos que forem incorporados;
-adição do restante da água, debitando-se desta a quantidade que foi incorporada juntamente com os pigmentos.

O concreto deve apresentar preferencialmente um elevado teor de argamassa. De modo a não ter que se recorrer a um elevado fator água/cimento para se alcançar boas condições de trabalhabilidade, o uso de aditivos superplastificantes pode ser adotado.

A tolerância para com o desvio no teor de pigmento em dosagem é de no máximo 3%.

O pigmento não interfere nas condições oferecidas para a resistência mecânica do concreto, sendo isto definido pelos parâmetros clássicos de dosagem do concreto. Não se deve negligenciar, também, a questão da permeabilidade do concreto. Para estes se requer um bom grau de compacidade, e ressalta-se aqui a preocupação quanto à utilização destes em fachadas, em especial em atmosferas oxidantes, visto que as fachadas e os cobrimentos de armaduras são importantes para se prevenir os casos de corrosão de armaduras.

Referências de apoio
HARTMANN, C; BENINI, H. Concreto arquitetônico decorativo. Concreto: ciência e tecnologia, vol.2, São Paulo, IBRACON/GERALDO ISAIA, 2011, p.1645-1681