Marco Antônio de Morais Alcantara
Temos percebido nos últimos tempos um grande estímulo para o desenvolvimento de materiais ditos “alternativos”. Esta designação vem a dar a entender que já existem então materiais convencionais, com os objetivos de que estes cumpram as mesmas funções. Uma vez tendo sido concebido um tipo novo de material, este poderá ter a necessidade da confiança do mercado e dos usuários para a sua disseminação, fora os possíveis preconceitos que possam estar de algum modo associado à nova solução. Este texto procura apresentar alguns conceitos e protocolos de modo a conferir aos materiais a sua credibilidade, dentro das funções que ele deverá desempenhar.
Desempenho dos materiais
A primeira questão que se coloca é: o que é o desempenho de materiais?
De modo geral, o conceito de desempenho está associado à capacidade de um material ou sistema cumprir com as funções para o qual ele foi concebido, de modo a atender do modo satisfatório, e considerando ainda as contingências que possam existir, em um contexto de sinergia ou de antagonismo.
Neste sentido podem ser citadas, por exemplo, a configuração do carregamento, as propriedades reológicas frente aos esforços solicitantes aplicados, as condições de exposição e as possíveis interferências no material, e outras contingências.
O desempenho pode ser considerado tanto em limites máximos de tolerância como em manutenção das condições desejadas de atuação.
As exigências de desempenho podem ser definidas em termos funcionais, das ações do ambiente externo como em termos do contexto do ambiente, e podem ser diferenciadas como qualitativas e quantitativas.
Como exigências funcionais nós podemos considerar a segurança estrutural, estanqueidade, segurança em incêndios, isolamento térmico e acústico, e a durabilidade.
As avaliações de desempenho podem ser realizadas de diversas maneiras, como: ensaios físicos e mecânicos, construção de protótipos, avaliações com base em simulações baseadas em modelos matemáticos, e outras formas.
Os principais interessados nas avaliações de requisitos de desempenho são, por exemplo, as empresas públicas, de modo a se ter a confiabilidade e a melhorias dos materiais e sistemas, assim como, os produtores voluntários, os subsetores da produção de materiais, sendo os benefícios percebidos por toda a população.
De modo geral podem ser reconhecidas as condições pelas quais os materiais oferecerão o melhor desempenho, assim como, o desempenho ao longo da vida útil, a necessidade de manutenção, e a homogeneidade.
O saldo de tudo resulta na atestação e na qualidade de um determinado material, e as melhorias obtidas com base nas observações dos ensaios. Isto se torna importante para os mercados existentes na área de construção civil.
Normalização
São especificações sobre os materiais e serviços executados, com os seguintes objetivos:
-Padronizar os produtos e os serviços;
-definir um padrão de qualidade para os diversos tipos de produtos e serviços;
-garantir a qualidade dos produtos e serviços;
-permitir a averiguação dos padrões dos produtos e serviços com relação à um padrão de referência, em casos de sinistros;
-permitir as definições de produtos e de serviços nos casos de acordos contratuais;
-permitir o intercâmbio comercial entre diferentes países ou regiões; permitir o aperfeiçoamento de produtos, por meio de comitês setoriais;
-facilitar padronização e intercambialidade.
As normas podem ser de abrangência nacional, internacional, entre blocos de países, ou de empresas, dentro dos seus domínios técnicos.
Dentre as normas internacionais, se destacam as do tipo ISO; dentre elas: ISO 9000, NBR ISO 9001 e NBR ISO 9004.
Estas se direcionam para os setores de gestão, sendo que a primeira descreve os fundamentos de um sistema de gestão da qualidade e terminologia; a segunda especifica os requisitos de um sistema de gestão de qualidade; e a terceira considera a eficiência dos sistemas de gestão de qualidade.
Considerando as normas brasileiras para construção, estas podem ser enquadradas dentro dos seguintes tipos:
-De padronização, atribuindo dimensões e as famílias dos produtos;
de especificação, que define a sua caracterização e adequabilidade à construção, definido parâmetros, como de resistência mecânica e de absorção;
-de ensaios ou método, que preconizam os procedimentos para a avaliação em laboratório;
-de terminologia, que define os termos de identificação dos materiais;
-de simbologia, que define os símbolos associados aos produtos;
-de classificação,, de modo a se estabelecer um critério de classificação;
-de procedimento, que estabelece os procedimentos de execução com o material.
As contingências das normas
Pelo que foi elucidado até agora, as normas representam o extrato das discussões entre os diversos setores como: setores privados, governamentais, acadêmicos, e expressam as referências sobre os melhores procedimentos quanto à execução de serviços, e à seleção de materiais.
Elas servem para nortear a realização de acordos entre empresas e clientes, assim como, para a segurança e a melhor qualidade de atendimento do usuário, e ainda, para a fiscalização governamental.
O atendimento à norma não é obrigatório, mas, este atendimento atesta a responsabilidade técnica do construtor e o empreendedor, pelo fato deste estar fazendo a opção pelo que há de consenso no meio técnico.
Cumpre considerar que, de modo geral, os organismos públicos requerem o atendimento do cumprimento das normas. Nos casos de contratos internacionais, cabe atentar que o Brasil é signatário de um conjunto de normas que são estabelecidas tanto para os materiais quanto para os serviços.
Do ponto de vista de empresas privadas, as normas podem ser alvo de cumprimento nos contratos e serviços, estabelecendo uma melhor base de confiança entre as partes.
Alei da defesa do consumidor pode tocar empresas e profissionais, diante dos casos de situações anormais.
Ainda, deve-se considerar a problemática do uso de materiais importados, e que não disponham de normas nacionais, devendo haver um julgamento coerente.
A aceitação e o reconhecimento dos produtos
Tendo em vista as diretrizes para os produtos e serviços realizados, cabe considerar a interação entre fornecedores de produtos ou serviços e consumidor.
Para tanto, são realizados os processos de certificação, feitos por empresas e organizações, de modo que um produtor é submetido à avaliações com base em:
-Normas pertinentes ao desempenho do produto;
-ensaios realizados com base em amostragem;
-inspeção dos produtos, com base em aspectos qualitativos ou quantitativos;
-auditorias, em termos de sistemas de de gestão, e á capacidade de fornecimento.
Mediante os processos citados pode-se emitir documentos de aprovação, dados por:
-Documento emitido em que o produto ou serviço avaliado atende ao que é requisitado por uma norma; este documento tem data e prazo de validade;
-marca de conformidade: é um símbolo ou selo que o fabricante pode incorporar em seus produtos, e que atesta que este atende às referidas normas de desempenho para aquele produto;
-divulgação em bancos de dados em sites específicos das organizações que lidam com o produto.
Finalmente, uma norma deve ser capaz de:
-Resguardar a segurança do usuário, a saúde, e contribuir para a preservação do meio ambiente.
Algumas questões sobre a sustentabilidade na seleção de materiais
A indústria da construção civil abrange uma grande quantidade de insumos, e também apresenta uma grande quantidade de resíduos gerados.
Um desenvolvimento sustentável implica em que sejam supridas as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade do atendimento das necessidades de recursos naturais das gerações futuras.
Isto implica em algumas formas de manejo:
-Uso de madeira de manejo adequado;
-uso de pontaletes metálicos, ao invés de pontaletes de madeira;
-uso de agregados reciclados, em lugar de agregados naturais;
-uso de concreto de maior resistência, diminuindo tanto o volume de concreto como de agregados consumidos;
-uso de painéis de madeira que permita maior número de utilizações.
Além destes aspectos devem ser observados os do desempenho durante a vida útil, e a diminuição das necessidades de manutenção.
Bibliografia
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